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quinta-feira, 29 de março de 2018

Easter Egg

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Hoje a lua está linda. As nuvens por vezes tentam ofuscá-la, mas só criavam um efeito ainda mais especial. Aquela luz intermitente passando pela infinidade de prédios como se quisesse ser um espetáculo só pra mim.


Eu, o cara cansado do expediente, no meio da calçada molhada. Mochila pesando nos ombros, as sacolas do mercado pendendo das mãos.

Desço uma rua escura em direção ao metrô. Passo na frente de um prédio com apartamentos e varandas enormes. O vigia me encara. Eu não encaro de volta. Continuo andando.

Dobro á direita, na velha Cardeal. Um boteco pé sujo, uma discussão de sinuca. Puteiros baratos. Albergues macabros. Carros, carros e mais carros. 

Passo pelos pontos de ônibus lotados. Todos parecem tão distantes. Os olhares ao longe. As rugas mesmos nos mais jovens. Os olhares que desviam. As mãos que mexem freneticamente em seus celulares. Todos estão aqui e ao mesmo tempo em outro lugar muito longe de seus corpos.

Entro na estação. Desço com cuidado as escadas molhadas. Tênis novo, saca? Comprei depois de usar por quatro anos o último. Ele é branco e deve sujar em poucos dias. Mas eu gosto. Só tomo cuidado pra não me foder escada abaixo.

Tênis de corrida yankees da última moda não foram feitos para a cidade da garoa.

Passo pelo túnel do vento. Mais gente com pressa olhando pro além. Mais gente sugada pela tela do smartphone. Ninguém está aqui. Ninguém...está...aqui. 

Passo pela catraca e vejo duas dúzias de gente sentada lado a lado, como numa fila de hospital. Passo em direção á escada pra plataforma de embarque. Uma garota linda encostada na pilastra.

Os cabelos negros descendo pouco além do ombro. Esguia e ao mesmo tempo curvilínea. Uma feminilidade graciosa no conjunto proporcional. A pele alva marcada por uma leve cicatriz quase imperceptível abaixo do olho esquerdo.

Eu reparo em cada detalhe dela enquanto caminho. "Você tem olhar de fotógrafo, tem o jeito", eles diziam.

Passo em frente ao nariz dela, praticamente. O olhar continua lá longe. Como o de todos os outros.

Você pode me ver?! Você pode me notar?! Pra onde diabos foi todo mundo?

Coisa louca, a selva de pedra. 

É nadar no maior de todos os rios e morrer de sede.

Coisa louca...

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