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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Apagar.






Se você pudesse apagar partes do seu passado, conservando apenas o amadurecimento adquirido destas experiências, você o faria ? Seu passado é condenável aos seus próprios olhos ? Você encosta a cabeça no travesseiro sem um peso na consciencia ?


Mais um texto, leitor.Se você me ama, se você me odeia, se você me despreza, leia.


"Manhã chuvosa, nublada.Sentou-se ao computador, o moletom cinza claro e confortável, os olhos embaçados da noite mal dormida.Os dias vinham passando rápido, desde que assumira o cotidiano de acordar meio dia, encher a barriga até sentir que engordou mais um pouco, se arrumar, ir para o trabalho extremamente gratificante de cobrar e ajudar alunos e professores da faculdade local e voltar para casa, de forma que saber se Michael Scofield ia sair de uma prisão no seriado era seu principal motivo de alegria.Parecia um veterano de guerra, do tipo que se lembra do passado de esforço e resultados, grandes glórias, e agora tinha ali sua decadência e uma nostalgia humilhante.Decidira por si só, parar de sonhar, pensar, querer.Agora seria uma engrenagem novamente.Sem perguntas, apenas funcionando, de forma eficiente e inesgotável.Iria passar os próximos meses estudando de uma forma que sua juventude se resumisse á crises de enxaqueca e fixação por notas mais altas.O que não era nada mal para um quase obeso que se limitava a perturbar a paz alheia com seus argumentos e dores já batidas.Se lembrou de certa música que ouvia um pouco antes da época mais feliz de sua vida começar, uma música que ouvia quando estava realmente solitário e infeliz, mas que lhe dava uma coragem excessiva, quase suicida de encarar as coisas.Colocou para tocar no youtube, o headphone encaixado e em alta potência.Jared Leto entoou, melancólico : - A revolution has begun today for me inside... - E então ele se sentiu como a letra, e se lembrou das vezes que saia do Senai, ao meio dia, e ia a pé em um caminho de quase uma hora para casa, e essa música sempre tocava quando ele cruzava a passarela sobre o rio, a maldita passarela alta demais e o maldito rio grande e sujo demais, malditos porque ele tinha medo de altura e de morrer afogado.E então ele a ouvia, por que ela lhe dava coragem, e o medo se transformava em força, em um quase ódio...e ele passava o rio, e a música podia terminar quando quizesse.Era agosto de 2007, ah sim, agosto...e agora estava ali, em julho, quase agosto de novo, mas dois anos depois, muito mais fora de forma, muito mais vagabundo, sem esforço algum para se orgulhar, sem ponte alguma para cruzar, e com um buraco tão grande por dentro que ele podia jurar que nem todas as vezes em que foi humilhado na escola juntas poderiam fazer um estrago daqueles.O que ele tinha naquela época que não tinha agora ?Ah.Se lembrou de como era fechado.Como seus medos não transpareciam.Como era esforçado.Como se anulava em nome do que acreditava.A época feliz o fizera se abrir, ignorar as lições e sonhar em ser mais um no mundo, que polui, faz sexo três vezes por semana, leva os filhos para a escola e torce pelo time aos domingos com cerveja no sofá de casa.Ah, idiota.Você é um idiota, repetia a si mesmo.Chega das pessoas o encararem como um vagabundo, um depressivo, com dó, com repulsa.Hora de se fechar...por que assim ninguém irá saber quem você é.Julgarão a tua máscara, e isso é tudo.Hora de esquecer o sorriso bonito, os dias felizes, as esperanças infundadas.Hora de ser frio como o aço e duro como as palavras que te machucaram um dia...hora de ser pelo que você acredita.E assim vai ser."


Há quem diga que estarei errado por me basear em tristezas a minha atitude.Bem...eu irei me tornar muito mais eficiente e próximo do meu objetivo de melhorar as coisas sendo assim.Eu arrumei uma gama tão grande de problemas e dores fingindo que poderia ser feliz e que o mundo era perfeito que vou passar o próximo semestre arrumando eles e torcendo para que não hajam novos.Já fiz isso de me esquecer antes.É uma agonia intensa, horrível e exasperante.Mas, eu a quero agora.É melhor assim...por que estou naquela fase em que se não for pra valer, não é.E quero ir para valer.



E você ?


Você apagaria alguma parte sua ? Você sacrificaria coisas pelo que acredita ?


Ad infinitumn

2 comentários:

putresco disse...

Sempre estarei aqui, renato. Para mim você sou eu, não que isso seja bom.

Unknown disse...

Sim, eu discordo. Discordo e acho errado você basear seu futuro, suas atitudes e decisões nas coisas que lhe fazem mal, nas memórias e pessoas que, por um capricho do destino, lhe fizeram (e ainda fazem) sofrer.
Dezenove anos, Diego. E você fala de um jeito que parece que não tem mais como mudar as coisas.
Te digo: o passado é a única coisa que não se pode mudar.. só, e somente, o passado.
Presente e futuro são escolhas única e exclusivamente suas.
Se quer se livrar de todos os sentimentos e lembranças ruins que te corroem a alma, acredita mesmo que se trancafiando com essas coisas em um mundo isolado, que só você tem acesso, vai te fazer melhor? Eu acredito que não.
Não temos tempo suficiente de errar tudo nessa vida, para aprender. Então temos que aprender também com os erros dos outros. Olhe à sua volta, e tente reparar nas coisas boas. Acredite nas possibilidades. Arrisque. QUEIRA mudar.
Não foque sua vida em um passado sombrio. Acredite na leveza da luz que está querendo entrar na sua vida...

...e abra a porta! Mantendo-a fechada, você jamais conseguirá enxergar o sol novamente.

Quando se passa muito tempo em um lugar escuro, sem ver um feixe de luz sequer, nossos olhos se acostumam. E, quando saímos para ver o dia, eles reclamam, lacrimejam, doem. Mas tudo de bom na vida requer algum tipo de sacrifício. Aposte na vida. Você é muito jovem pra se fechar assim.

Eu aposto todos os meus créditos em você.