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domingo, 26 de julho de 2009

Heartbeat







"A música está em toda a volta...basta você escutá-la" - August Rush





Passei semanas a fio á procura de um filme que me tocasse novamente a alma.Desde Sete Vidas e Sociedade dos Poetas Mortos eu não conseguia realmente me prender á um longa.Escutando uma recomendação, assisti sem grandes expectativas um filme chamado August Rush - O Som do Coração.Não vou contar o filme.Mas posso dizer que me fez reviver um pouco.Me fez...sonhar.


Durante toda a minha vida, eu fui um homem de excelência nos atos.O garoto educado, o aluno aplicado, aquele que sempre abaixa a cabeça nas brigas da escola, aquele que sempre procurava as melhores notas, aquele que os pais tinham vontade de colocar num pedestal e levar no pescoço para todo mundo saber quem era o filho deles, e quem criou aquilo.

Passei em todos os vestibulares, todos os concursos, todas as grandes apostas, e antes que você me diga, "cara arrogante", eu não sou arrogante.Isso é fato, eu me dediquei e não me permiti falhar em nenhuma ocasião aonde se alimentava expectativas alheias sobre mim.Estive quando meus amigos me solicitaram, fui forte quando a situação pediu, detonei 300 concorrentes uma duzia de vezes para entrar em instituições publicas.Sorrisos e orgulho das pessoas que me amam, embora eu não tenha sorrido por ter passado em nenhuma prova até hoje, mesmo que os que não tenham passado tenham saído com uma tristeza sombria, e os outros que passaram com um orgulho de Aquiles.

Mas eu sou humano.E eu já falhei.Poucas vezes.Vezes fatais.Quando a vida me deu a chance de julgar a mim mesmo, a chance de correr um pouco mais por algo mais brilhante do que o diploma na parede, eu falhei.

Certa vez, mesmo : foi quando eu contava sete anos.Meu tio tinha complicações respiratórias e suspeita de AIDS.Enfraquecido e em seus últimos dias, se tornava rabugento como toda pessoa no fim da vida que não aceita tal condição.Brigava volta e meia comigo.Um dia, deitado, chorou, arrependido, para minha avó.Disse que não queria ter sido tão ranzinza, que se sentia mal por eu evitá-lo por conta dos atos dele.Á noite, minha mãe chegou do trabalho e minha avó relatou o ocorrido.Minha mãe pediu para eu abraçá-lo.Eu fui com uma certa resistencia, e tudo que consegui foi apertar a mão dele e sair correndo para a porta com minha mãe gritando comigo.E fiz aquilo de raiva.Naquele fim de semana, meu tio morreu, e quando aquele caixão se fechou, minha culpa foi junto.Eu FALHEI como ser humano.Eu errei, errei e fiz alguém morrer com culpa.Isso não é questão de se perdoar ou de se culpar demais.É fato, fazem doze anos, não há o que discutir.

Quando tinha dez anos, fiz minha mãe chorar.Estava com raiva por ela ter me batido por uma mentira inventada do meu primo, e disse coisas desnecessárias.Ela chorou na frente da familia inteira, no Natal.Levou um tempo para ela recuperar a auto estima depois do que eu disse.Eu falhei como filho, falhei como pessoa ao deixar o orgulho mesquinho tomar conta, e meu erro fez uma marca nela, mesmo ela tendo me perdoado como mãe.E uma marca em mim.É como aquela história do carpinteiro.Uma vez, o filho do carpinteiro estava nervoso, irado.Ofendia os outros gratuitamente.O pai deu uma táboa, um martelo e uma caixa de pregos.Disse á ele : "Toda vez que se sentir nervoso, você irá martelar um prego aqui nesta tábua".E toda vez que se sentia nervoso, o garoto martelou um prego.Após alguns dias, tendo se cansado e visto que suas atitudes não levavam a nada, voltou e informou ao pai seu remorso.O pai, para concluir a lição, disse : "Agora vai e retira todos os pregos".O filho retirou, mas notou que a tábua ficou toda marcada."Assim é a vida.As pessoas nos perdoam, e com isso tiramos os pregos com que as ferimos, mas ainda sim, fica a marca de nossos atos".Eu me sinto péssimo quando marco a tábua.

Meu avô morreu há três anos.Ele sofreu muito antes disso.A única pessoa, a única, que ele olhava nos olhos, mesmo após quatro derrames e na UTI, era Eu.Ele gostava muito de mim, eu era o neto que ele queria, sério, comprometido com os valores da familia.Minha familia se desintegrou com os tempos, ele viu tudo isso, teve um desgosto enorme.Colocaram ele na porra de um asilo para ricos, como se isso resolvesse algo.E eu, como membro da familia, o membro da familia que ele confiava, não fiz nada.Deixei meu avô passar por humilhações como pessoas estranhas trocando ele, por conta de sua mobilidade física, porque a familia, a familia que ele construiu e trabalhou de domingo a domingo para sustentar, a familia que me gerou, não tinha paciencia para deixar o conforto de suas casas e cuidar de um velho.Ele me olhou bem no fundo, naquele dia na UTI.E não era raiva.Era resignação, tristeza.Aonde eu estava ? Eu falhei.


Uma vez, minha ex disse que sonhava beijar na chuva.Acho que choveu umas vinte vezes em ocasiões em que eu estava com ela, mas eu nunca fiz isso.Uns dias antes do término, estávamos na estação e começou a chover.Eu puxei ela, e ela lembrou desse desejo.Olhei, não sei porque, Deus, não sei porque, como se ela tivesse falado algo louco, que se molhar á toa e voltar enchargado pra casa seria bobeira, e ignorei.Eu falhei em aceitar uma chance de ter um momento feliz, e isso virou um momento de remorso.Assim como eu falhei algum tempo depois em convence-la á continuar comigo, e como falhei miseravelmente, estupidamente, de forma imbecil, idiota, como pessoa e como homem de cárater, ao me revoltar e me sentir injustiçado, ao achar que eu era dono de suas ações como pessoa, e em vez de cumprir meu dever como ser humano que quer mudar o mundo, e não importunar, eu insisti no erro, causei reações negativas por parte dela, e encerrei qualquer contato nosso, assim como várias semanas de dor para mim, vocês sabem quantos dias foram, por este blog.Eu falhei, falhei de novo.Por orgulho.

Pode parecer besteira, mas não é.A cada falha minha, que ocorre de anos em anos, é uma hora a mais que eu me reviro antes de dormir.É uma ferida aberta que me lembra qual é minha importância.E não, esse não é uma PORRA DE UM POST AUTO-PIEDOSO.

O que eu quero dizer, é que se você tem alguém que ama ainda do seu lado, se você ainda tem alguém precisando de sua ajuda que tem em você o porto seguro, se você tem a oportunidade de fazer seu namoro, seu lar ou qualquer ambiente que você viva, qualquer sonho que você deseje ardentemente alcançar, por tudo que é mais sagrado e por tudo que é mais profano, corra, se mate, quebre seus ossos por isso e por essas pessoas.Dê o seu melhor, porque a vida permite que pessoas que não passam em provas disputadas ou não são o orgulho dos pais serem felizes, ou terem um sono tranquilo.Mas ela não perdoa quem desperdiça as chances de ser feliz e de mudar o mundo.O tempo corre, corre demais.Seja o seu melhor, seja o mais bondoso e esperto que puder ser.Se eu pudesse...ah, eu teria arrumado muita coisa.

E acho que depois deste texto, vocês podem imaginar porque eu me sinto paralisado assistindo Sete Vidas, ou August Rush, ou Efeito Borboleta.


Faça o necessário.Sempre.




AD INFINITUMN

4 comentários:

Bru disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
putresco disse...

Falou e disse, Bru.



...



Que foi? Já disseram tudo!




Seu caro raro leitor nºún.

Unknown disse...

'ninguém pode voltar atrás e criar um novo começo, mas todo mundo pode recomeçar agora e criar um novo final'

imagino, do fundo do coração, o quanto você queria poder mudar essas coisas.. mas veja o quanto tudo isso lhe ensinou, di.. e entenda: tudo na vida tem um propósito.

nossos erros nos ajudam a crescer.
não é porque você errou no passado que você precisa continuar se fechando pro mundo.
imagina que coisa terrível seria um mundo sem erros? as pessoas iam nascer e morrer com a mesma alma involuída, sem sequer saber o motivo de terem vindo ao mundo.

se você está aqui, tem algo que só você pode fazer.. tem alguma coisa por esse mundão aí afora que você é o único que pode mudar.

é errando que a gente acerta.
imperfeições são normais, e possíveis de serem consertadas.

Anônimo disse...

"Do your best"



não se culpe pelos erros do passado... concentre-se nas alegrias que te reservam o futuro.

o que passou poderia ter sido melhor, mas quem sabe você não tenha feito o melhor que pôde? a gente nunca vai saber em que ralmente falhamos com os outros... nós não podemos ver com os olhos deles.

sonhe alto e veja mais filmes bons!