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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blecaute





Escuro.Minha cidade, minha segunda mãe, no escuro.As pessoas gritam e saem ás ruas como um bando de loucos, como se tudo tivesse se tornado um grande hospício.Aquele breu parece despertar o lado mais maligno, mais impune de cada um.Talvez por isso fosse sempre relacionado ao mal.

Uma sirene aqui, uma moto ali.Pessoas que se amontoavam em calçadas com roupas de verão e filhos no colo, numa cena muito parecida de Tristes Trópicos (Levi Strauss adoraria participar de um blecaute e estudar todas as suas implicações sociais) , e aqueles que voltavam cansados, encurvados, em suas roupas sociais ou de moda, após um dia de estudo ou trabalho eram vistos com interesse de quem assiste realities shows e perdera isso por uma noite.

Não se via nada extraordinário em lugar algum - não se via nada.Mas o pânico, o medo, a demência, estava ali, no ar.Era só inspirar mais fundo.Por isso as pessoas amontoadas.O instinto de manada.Humanos.Sinto o frio da brisa bater em mim, como a susurrar, e as chaves abrem o portão da segurança de meu lar.Olho em volta, a luz débil do celular a iluminar um pouco do inferno invisível.Um protótipo de delinquente passava perto.Não vou ser a sua caça hoje, hiena.

Entro, sinto a luminosidade da lua, a lua dos apaixonados e dos irresponsáveis a cortar meu caminho, e paro.Observo com o máximo de precisão possível a um ser humano.Todos dormem em meu lar.Anjos.Estão em paz.Desço as escadas.O que tem para jantar ?

Pizza.Ótimo, não precisa esquentar.Como, tomo.Penso sobre o dia, penso sobre amanhã, penso em como o tempo é relativo e eu não deveria contar horas e sim fatos.Amanhã cedo, quando essa energia voltar, os dementes vão estar de volta em suas mentes, trancafiados para viverem socialmente, alguns homens bem vestidos irão falar para alguns repórteres, que terão que esmurrar outros repórteres por este direito.É a lei da selva de pedra.A selva que agoniza em trevas.Irão dizer que um raio caiu.Que um cabo rompeu.Que milhões tiveram sua noite de ritual pagão involuntário porque houve um pequeno colapso.Nomes não serão citados.Eleições perto, cabeças não querem rolar pela calçada da fama e da lama.

Sobe ás escadas, cauteloso para não cair e quebrar algo.Se deita.Sua mente viaja, e ele se lembra, de como, a algum tempo atrás, em outro lugar, em outro contexto, havia acabado a luz, em uma mesma noite de lua, em uma mesma noite de cansaço e medo.Mas isso não vem ao caso agora, não irá vir.Era só outra noite dos dementes...

8 comentários:

Cy disse...

Certamente o caos foi instaurado nessa cidade de malucos.

*Se levantássemos um muro viraria hospício, se descessemos a tenda viraria circo!

Certamente o que me intriga é saber o que será feito após isso! Por sonho utópico eu acredito que muito... mas meu pessimismo aparece para dar um "oi" e dizer que: - "Não será bem assim!"

Ao menos um acontecimento tão "cretino", trouxe algo de bom, um texto digno de ser lido! Meus parabéns!!!

Beijinhos,

Cy

ReLiver disse...

Hahaha... Post doido. Mas cara, aqui em Alphaville, tem um lugar chamado Gruta. Fica perto de uma igreja católica.
Geralmente aparece um pessoal meio diferente lá. Minha irmã, que na hora do blecaute estava com minha prima na rua, falou que via gente praticamente fazendo sexo! Hahaha... Muito hilário. O pessoal se diverte com um blecaute!? É cada uma, viu...
Abraços.

Maria Carolina disse...

Concordo com muita coisa que vc disse aqui... Eu acho que o que constribui tbm pras despertar nas pessoas seu lado mais terrível é a multidão... Em bando, o individuo perde a identidade. Deixa de ser singular e passa a ser plural, todos... Aí, protegido pelo anonimado dado pela multidão, comete barbáries... Eu fico chocada... E, como vc, observo... Observo...o imenso espetáculo chamado ser humano. Pffff.... =/

Ao invés disso, poderíamos aproveitar esses momentos pra vermos o quanto não somos limitados,o quanto podemos ser infinitos...

Té mais!!!

=)

Maria Carolina disse...

*desculpe pelos erros de digitação. Sorry.

Anônimo disse...

ah, você sempre lê minha mente :)

subi dezoito andares de escada, mas cheguei viva em casa! a gente sempre dá um jeito, né... mesmo quando nos pegam de surpresa.


"humanos"... hahaha

saudade, viu?

beijos

Unknown disse...

hehe..
Sabe, Di, isso me fez lembrar uma música de capital inicial, que diz assim:

'O que você faz quando
Ninguém te vê fazendo?
Ou que você queria fazer
Se ninguém pudesse te ver?'

A gente nunca assume. Mas sempre tem um lado 'dark' da gente, que às vezes nem nós mesmos tivemos coragem de nos permitir conhecer ainda.

A pergunta é: O que seria o mundo se as pessoas (pelo menos, a maioria delas) não se preocupassem com aquela coisinha chamada 'reputação'??

Hehe
Seria cômico, se não fosse trágico.

[Bem clichê]

Beijo ;*

putresco disse...

Como você conseguiu postar durante o blackout?







Fica aí a minha pergunta.









(Na escuridão, saí na varanda e gritei "NINGUÉM É DE NINGUÉM!", a galera respondeu "URRÚL!" e teve início uma grande orgia. Palavras ditas no escuro fogem ao julgo da razão e do discernimento.






Seu caro raro leitornºûm.

putresco disse...

)*