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terça-feira, 15 de junho de 2010

A Copa e nossas vidas



Se você acha que esse vai ser um post no qual eu meterei o pau no ufanismo que toma a população durante a época de Copa, você errou.

Se você acha que esse vai ser um post no qual eu defenderei o pau, ops, o ufanismo que toma a população durante a época de Copa, você errou de novo (há).

O post não fala sobre isso, mas para evitar que vocês desviem sua atenção do assunto a ser tratado, eu vou deixar bem claro minha posição sobre isso só aqui no começo :

É fato que eventos como a Copa servem e muito para ajudar as pessoas que fazem coisas que não devem a terem seus pecados esquecidos, escondidos e perdoados.Que auxilia quem se utiliza do famoso populismo, e que é parte da filosofia Pão e Circo (pra quem não sabe : panis et circensis é uma filosofia suja de governar, na qual os governos dão ao povo o que o povo gosta - festa, esportes e afins, e em troca, é como se o povo esquecesse os seus desmandos).

Por ironia do destino, nós, o país do futebol, somos dos países em desenvolvimento os mais arraigados a essa cultura do Pão e Circo.Logo, é difícil tirar a imagem negativa que a Copa tem perante aqueles que defendem um país mais honesto.

PORÉM :

Durante a Copa, se por um lado as pessoas esquecem o que não deveriam, também esquecem muitas vezes suas dores, sofrimentos, angústias e problemas.O país fica com uma leve sensação de integridade nacional, e quando o Brasil ganha, quase todo mundo fica bem humorado.


Sendo assim, não só por ser tarado por futebol, eu sou sim a favor da Copa e de todos os lugares pintados de verde e amarelo.Corrupção é algo que deve ser combatido independente de eventos esportivos.

Opinião dada.Assunto encerrado, certo ?!

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"O esporte é o único tipo de entretenimento em que, não importa quantas vezes você o assista, continua sem saber o final." (Neil Simon)

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Onde você estava em 2002, leitor, quando Cafú ergueu a taça do Penta ?

E em 1998, quando Zidane destruiu sonhos canarinhos ?

E em 1994, quando um país orfão de ídolos gritou novamente de alegria ao aparecer para o mundo ?



Eu estive observando, pensando, refletindo.É incrível como eventos esporádicos, e em distâncias certas de tempo podem marcar nossas vidas.

Observar aonde você estava em cada Copa pode ser um exercício e tanto para avaliar a si mesmo.

A primeira copa que aconteceu comigo aqui no mundo foi em 1990.Eu tinha apenas alguns meses, mas sei que eu morava com meus pais em um apartamento no quinto andar.E isso era tudo.Eu nem fazia idéia do que era a vida em si.

Já em 1994 a coisa foi muito diferente.Eu havia me mudado de São Paulo pra Curitiba, meus pais comemoraram MUITO mesmo essa Copa, e eu me lembro apenas do meu pai gritando "Aeee, gol na Rússia" (O primeiro jogo da Copa de 1994 fora contra a Rússia) e eu chorando no canto do sofá, acho que foi porque eu caí ou algo assim.

Chorei até certa hora, porque de tanto meus pais comemorarem, eu acabei saindo de lá e indo comemorar junto.Vi que não tinha graça chorar e chorar e chorar quando a vida está ocorrendo lá fora.Nem sabia porque todo mundo na rua tava tão feliz, só porque aqueles homens de amarelo ficavam correndo que nem bobos atrás dos caras estranhos de um país lá longe.Mas eu gostei de ficar alegre junto.

E acho que desde então eu me apaixonei pra valer por Futebol.

Em 1998, minha familia inteira ia pra minha casa ver os jogos.A gente fazia pipoca, trazia cornetas, e torcia muito mesmo.Era uma zuera total, e eu gostava de ver o Brasil fazer gols não só por ser brasileiro, mas porque era o máximo ver todo mundo da família e da rua ficar gritando e pulando que nem uns loucos.Quando se é criança, você está acostumado a só você ser meio besta, mas eu percebia que na Copa, todo mundo ficava besta, então era realmente interessante.Ronaldinho virou sinônimo de tios gritando e pipoca caindo.

Na final, eu estava na minha avó.Lembro que estava frio, que meus pais trouxeram um agasalho de presente, que a familia não estava unida como sempre e que eu vi uns garotos lá fora soltando pipa, e achei um absurdo enorme eles não estarem lá pra ver o jogo.Como poderia um ser humano não gostar da Copa, de pular que nem besta ?

Aí veio o Zidane e...bom, vamos pra 2002.

Em 2002 eu já completava 12 anos.A vida já não era tãããão azul assim, mas eu ainda adorava ser besta.Tanto é que essa foi, definitivamente, a Copa que mais gritei, zuei, adorei, chorei em toda minha vida.Adorava acordar no meio da madrugada com as cornetas e fogos, e sem dúvida, aquela foi a melhor seleção que vi na minha vida.Além disso, havia uma sensação de última vez naquilo.Acho que por isso senti uma tristeza meio estranha quando a final acabou.

No outro dia, na escola, todo mundo comentava como foi incrível o Kahn levar aqueles dois gols, que o Rivaldo era melhor que o Pelé e que Felipão era um gênio, que até o Galvão se tornou uma voz angelical quando narrou o segundo gol.

Mas, já naquela Copa, a família mal se reunia.

Foi minha última Copa legal.A melhor de todas.


Então veio 2006.Em 2006, eu já trabalhava, estudava, tinha 16 anos e particularmente, via o futebol não mais com aquela magia, mas com uma austeridade.Ainda era a mesma paixão, mas não a paixão de uma criança, e sim de um homem.Não me interessava mais os ídolos - Não mais Zidane, Di Baggio, Ronaldo, Romário, Kluivert - mas sim as táticas, os estádios, a importância do evento.

Lembro que a família se reuniu em todos os jogos da primeira fase - mas que no primeiro só eu gritei no gol contra a Croácia, e no segundo, todos foram almoçar BEM na hora do Jogo, e só eu fiquei lá vendo, e ainda reclamaram comigo.Sim, 12 anos depois eu ainda achava um absurdo ignorarem o jogo do Brasil.Mas agora não eram só os garotos da rua.Era praticamente a família toda.

A Copa havia se tornado um medidor de nossas vidas : da mesma forma que ninguém se importava muito mais em ficar junto na frente da TV, ninguém se importava em ser unido como antes, e era mais fácil e mais cômodo cada um assistir na sua casa, viver na sua casa, morrer na sua casa.

E eu já comemorava os gols com um único "Gol !", explosivo porém curto.Não era mais um "Goooooooool", infinito, constante, de arrebentar os tímpanos e competir com as cornetas e vuvuzelas, finalizado com uma corrida pela casa ou um pulo em cima de alguém.

Era uma comemoração séria.De quem já se importa com as reações dos próprios atos.Nada de inocência mais.

E aquela Copa foi tão decadente que, eu assisti a eliminação para a França de Zidane (de novo ele) fechado, no quarto escuro e deitado.


E então veio 2010.

Na Copa de 2010, eu não contei os dias, horas, minutos e segundos pra começar.Não acordei cedo pra ver jogo.Não vesti chapéu verde e amarelo, não acordei o vizinho.

Assisti todos os jogos até aqui, porque querendo ou não, ainda sinto aquele magnetismo fantástico pelo evento.Vejo graça até nos chutões tortos do lateral direito reserva da Eslováquia cujo nome meu cérebro não consegue entender.

Meu coração ainda dispara quando a seleção joga.Minhas pupilas ainda dilatam quando a bola chega perto da grande área.

Mas é diferente.É uma alegria não-contagiante.Solene.

E a maior prova disso foi que, no primeiro gol da seleção, nessa copa, eu estava lá embaixo, na cozinha, enquanto meus pais comemoravam no andar de cima.Eu simplesmente estava lá porque minha familia gosta de torcer comentando - e eu gosto de torcer analisando.Eu virei um chato e perdi a capacidade admirável de ser besta que só as crianças tem, geralmente.E minha comemoração foi apenas um sorriso, verdadeiro, mas só.

Após o jogo, nada de sair na rua comemorar com o povo.Fui para o trabalho.

E ao me olhar no espelho, antes de trocar de roupa, ainda olhei uma última vez na roupa que usava na hora do jogo.

Aquela camisa.A de 94.Que quando criança virava um pijama em mim, e agora era apertada, surrada e cheio de fiapos.A camisa de quando parei de chorar e comecei a sorrir.A camisa dos pais sorrindo, da Rússia perdendo.

A camisa do garoto que virou homem.


Vai Brasil.

Vai Diego.


(Ainda não sou nem penta)




AD INFINITUM

3 comentários:

Oissac disse...

Espero em uma Copa muito próxima, nós possamos comemorar juntos, com nossas famílias reunidas em volta da TV. Ótimo post irmão parabéns.

ReLiver disse...

Como irei eu, gritar Brasil Campeão!? Como irei eu, gritar Brasil-sil-sil!? Vi meu avô morrendo pedindo pelo amor de Deus por exames... Minha família não teve nem o direito de saber do que exatamente ele morreu. ... Esse é um caso e muitos outros. Sou orgulhoso de ser Brasileiro, sou um verdadeiro nacionalista. Por que? Porque não fecharei meus olhos e nem me orgulharei de gritar Brasil-sil-sil, sabendo que paralelamente a isso, pessoar morrem sem assistência, passam fome, frio e não tem A QUEM RECORRER. O problema não é a Copa, são as PESSOAS! ACORDEM PELO AMOR DE DEUS! Ao invés de pagar milhões em jogadores e seus uniformes, meu avô poderia (e muitos outros) poderiam estar fazendo seu tratamento (ou ao menos ter morrido com mais dignidade!)

Unknown disse...

Ah, que post fofinho!
Me fez lembrar algumas coisas da vida.. =]
Em 94, eu assistia a copa no colo do meu pai, e lembro de uma vez que ele quase me derrubou, quando foi comemorar um gol. Haha
Em 98, eu não queria saber de futebol.. meu negócio era a piscina armada no quintal da minha casa. Aquelas de plástico, de sei lá quantos litros, mas que era suficiente pra eu fazer maldade com o coitado do meu irmão... (6)
Em 2002 eu virei uma super-ultra-mega apaixonada brasileira. Cada gol do Brasil era um grito maior que a garganta podia aguentar. Pulos, risadas, abraços em quem se metesse na minha frente. Gol do Brasil. Unicamente apaixonada assim, pq foi um ano antes que eu comecei a amar o futebol (e o corinthians, é claro...)
Em 2006, minha época de pré-adolescência-revoltosa-sem-causa. Assisti a todos os jogos com meus amigos do pré. Nenhum em casa. Achava careta assistir jogos em casa com os pais, tios, primarada...
E, agora, em 2010... Sinto falta da caretice de assistir jogos em casa, com os pais, tios, e a primarada toda. Sinto muita falta mesmo. Quem dera eu pudesse =T

O primeiro jogo do Brasil, meu namorado estava de serviço, coitado, e eu assisti o jogo sozinha em casa. Pq Recife estava debaixo de um dilúvio... E aqui, não há a menor possibilidade de se sair de casa debaixo de chuva forte, pq a cidade fica literalmente alagada. Não tem carro/onibus/caminhão/bicicleta/moto ou ser humano que se aventure por entre os mares que se formam... Esses dias é que eu entendi pq chamam Recife de 'Veneza Brasileira' hahaha
Não gosto daqui, sabia? =/
As comemorações dos gols foram comedidas, mas verdadeiras. Só que eu não gostei do jogo, não. E nem to acreditando nesse hexa que todo mundo fala... ah, se ainda fosse a seleção de 2002... =T

Eu adorei o post, mesmo, mesmo! Beijo Di =]