• Twitter
  • Facebook
  • Instagram
  • Youtube

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Walking After You

-----------------------------------------------------------------------------------------------
"É melhor um passo lento por caminho reto do que muita velocidade fora do caminho." (São Leão Magno)
-----------------------------------------------------------------------------------------------
Quando eu era criança, e assistia Karatê Kid, eu me concentrava muito mais em tentar copiar os golpes de Daniel-san (tentei uma vez colocar refrigerante no copo com os olhos vendados - tentativa frustrada pelo meu pai) do que prestar atenção nos diálogos.

Aquela coisa de "entenda a natureza ao seu redor, Daniel-san, e entenderá você" para mim era papo de idoso com alzheimer.

Logicamente, quando cresci, passei a ver as coisas de um outro ângulo, e a respeitar a maioria delas.

Ainda na época infantil, eu detestava usar chinelo de dedo.Ou o chinelo saia fácil do pé, ou ficava apertado demais e machucava meus dedos.

Um dia, meu avô deu a mão pra mim na rua e disse : "Observa o jeito que o vô anda, aí você faz igual.Nem mais devagar nem mais rápido".

Meu vô não parecia o Senhor Miyagi, mas me ensinou muitas coisas valiosas, mais do que o famoso golpe da garça.

Essa foi uma delas.

Eu notei que ao andar no ritmo dele, o chinelo nem ficava folgado demais, nem apertado.Parecia perfeitamente adequado ao meu pé.

Quando eu andava devagar demais, preguiçoso, desleixado, o chinelo saía mesmo, sem cerimônia.

Quando eu andava rápido demais, apressado, correndo, sem nem parar pra olhar aonde eu tava pisando, quase sempre, terminava com o pé todo machucado, e o chinelo se tornava um incômodo.

Mas quando eu andava naquele ritmo, as coisas não ficavam ruins, e ainda mais surpreendente, meu vô, que nunca mudava aquele jeito de andar, não chegava atrasado nem adiantado nunca, mas sempre no horário.Como se tudo a sua volta fosse pra estar aonde deveria estar, inclusive ele.

E, foi lembrando disso hoje, que entendi a lição.

Talvez meu vô nem tenha tido a intenção de passar algo mais profundo assim.Provável que não, uma vez que eu tinha só quatro anos quando isso ocorreu.

É, eu lembro de coisas de quando tinha quatro anos, leitor questionador.

----------------------------------------------------------------------------------------------
"O caminho dos preguiçosos é cheio de obstáculos, ao passo que o do diligente não tem quaisquer embaraços." (Benjamin Franklin)
---------------------------------------------------------------------------------------------

Mas, o mérito do melhor aluno está em aprender e ir além do que o professor inicialmente demonstra - e assim como pessoas iluminadas denotam bondade em gestos, pessoas experientes ensinam apenas vivendo, sem nem perceber.

Aprendi que assim como o chinelo, minha vida sai totalmente do controle quando fico desleixado, preguiçoso, desmotivado.Decisões são tomadas pelo tempo, e não por mim, minhas qualidades ficam em segundo plano, meus defeitos aparecem toda hora, e quase sempre me pego sentindo longe da vida, como se fosse um jogador no banco de reserva, em plena Copa do Mundo, implorando pra entrar e jogar um pouco também.

Quando fico agitado, impulsivo, emocional demais, é quando acabo me machucando, e muito.Acabo idealizando pessoas que não são metade do que penso, piso em terreno desconhecido, acabo perdendo tempo e dinheiro em projetos furados, mostro minhas melhores qualidades a olhos cegos (como dizia o ditado : não se dá perólas aos porcos), meus piores defeitos nas piores horas, e a vida fica igual o chinelo : um incômodo.

Ultimamente, tenho andado entre os dois ritmos.Paro e vejo que estou ficando pra trás na vida; Então acelero pra tentar recuperar o tempo, e começo a cometer uma série de erros.

Sinceramente, não reclamo de nada.Sei que o que passei até hoje, foi pro meu crescimento pessoal - inclusive as escolhas erradas.

Acho que, por isso, tenho um certo carinho e lembro tão bem até de pessoas que passaram por poucos minutos em minha vida.E até mesmo daquelas que me prejudicaram de certa forma.

Já me surpreendi de diversas formas com a visão que algumas pessoas mantiveram de mim após minha saída da vida delas.

Algumas, que eu nem tinha amizade direito, me guardaram como um grande exemplo, quase uma lenda a ser contada pra outros.Colegas de escola, chefes no trabalho - felizmente, não foi apenas uma vez que foi pego de surpresa por um "eu te admiro, pra caralho", ou um "eu sei que você ainda vai longe" de pessoas que eu achava que nem me viam direito.

Outras, que eu me esforcei ao máximo pra agradar, fazer feliz, acabaram guardando de mim a imagem de um erro, algo ruim do passado - e isso, me incomoda é claro, mas não por terem essa imagem de mim.Eu sei o que fiz, eu sei o que sou.Mas, se tem uma imagem negativa de um esforço positivo, não quero imaginar o que pensam das más ações...e além disso, é realmente ruim quando alguém parece nos tratar como desafeto.Independente de merecimento.Saber que algumas pessoas assim encaram a realidade recente, me faz ter um pouco mais de medo de não conseguir mostrar nem convencer que o bem compensa.



Eu ainda vou achar o meu ritmo.




Um sonho na cabeça, um ideal no coração.Essa é a minha lenda pessoal.




(Desculpem se o final do post ficou pessoal demais.Ás vezes o chinelo aperta...)




AD INFINITUM

2 comentários:

Unknown disse...

Meu amigo, que post lindo.
Passou pro hall dos meus posts preferidos.

Você tem o poder de enxergar uma enorme lição nas mais simples coisas da vida. Isso é lindo. E é o que mais adimiro em você.

Não se preocupe com o que as pessoas guardaram de impressão sobre algum erro ou alguma forma errada de se expressar que acaso você já tenha cometido. O que importa na vida é o que você faz as pessoas sentirem. É o que você ensina. Eu sinto em cada sílaba desse post toneladas de sentimentos, que vc transparece sem encontrar a menor dificuldade. E eu me sinto privilegiada de poder partilhar essas palavras. Seus posts, seus ensinamentos. Impressões errôneas são facilmente mutáveis. Sentimentos e ensinamentos são pra vida inteira.

Beijoca!

Cristoffer disse...

Nossa cara, realmente bastante profundo o que você escreve, isso me confunde bastante porque lidou ao mesmo tempo com pessoas que enxergam pequenas coisas com grande profundidade e grandes coisas com tanta superficialidade. Meu compilador não aguenta assim né rsrsrs. Chinelo do seu avô? Com quatro anos? Porra meu com quatro anos eu nem andava direito. Cara muito foda o que você escreveu, daora mesmo, até vi a cena. Realmente impressionante como pessoas sensíveis e inteligentes conseguem tirar lições de momentos que passam despercebidos pela maioria das pessoas. Admiro a profundidade de suas palavras meu amigo, continue escrevendo assim.