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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

God bless us everyone...


...We are a broken people living under a loaded gun."

(The Catalyst - Linkin Park)



"No desespero e no perigo, as pessoas passam a acreditar em milagres.De outra forma, não sobreviveriam" (Erich Remarque)



Imagine a cena.

Você está em um shopping lotado.É época de natal.Você está com seus amigos numa praça de alimentação, comemorando seu recente aniversário.Não há lugares vazios.A praça, enorme, está toda ocupada.

Você sorri, todos sorriem.É uma noite agradável a mais, uma lembrança pra ser guardada.

Vidas seguindo adiante.

Então, um barulho irrompe.Dezenas, centenas de pessoas correndo desesperadas, gritando, um ruído enorme de passos apressados acaba com aquele que era um clima festivo até então.

Em termos de segundos, como em um filme de câmera lenta, seus olhos registram todos se levantando, começando a correr também.Você enxerga a mãe puxando o filho, e você enxerga o senhor sendo pisoteado.

E há três segundos atrás, você sorria.

Agora, a batida do seu coração parece ser seu requiém.O tempo parou.Você apenas se pergunta o que está fazendo ali.Olha instintivamente para o teto.Não está desabando.Olha para seus amigos.

Uma chama lá dentro queima e diz para você viver.

Você pede para todos irem pra debaixo da mesa.

Então a cena volta.

Após alguns minutos, o barulho cessa.Você se levanta.Não há mais ninguém na praça.Objetos, sapatos, documentos, todos deixados pra trás.

Como num microfilme sobre uma hecatombe nuclear, você se sente o sobrevivente.Até a situação voltar ao normal com seus amigos se perguntando que merda foi essa e as pessoas tirarem foto do cara preso pelos seguranças.Até você saber que tudo começou com um tiro disparado.Até você notar que o senhor está sangrando e assustado.

E então, você nota como tudo na vida, por mais intenso que seja, é separado por finas linhas.Você olha o que eram rostos sorridentes se tornarem rostos horrorizados.Sente o ar ficar pesado, e sente vontade de ir embora do que antes era um perfeito lugar.

O que separa o céu do inferno ?

Ah, difícil saber.

Essa situação aconteceu comigo no domingo passado.E depois, fiquei pensando.Como podemos ser tão frágeis e impulsivos em situações de perigo ! Eu sentia dó e raiva ao mesmo tempo das pessoas.Porque achei irresponsável todo aquele estopim, ainda que fosse uma arma.E senti dó porque vi que muitos estavam tentando salvar seus filhos, as próprias vidas e, indiretamente, todos seus sonhos.

Será que eu não correria e passaria por cima de um senhor se essa escolha me fosse dada ?

Ou você, ou ele.

O que sinto é que não, não passaria.Mas a teoria não é amiga da prática.

Conversei com minha psicóloga sobre a sensação de impotência, de se sentir em segundo plano e da raiva contida.

Ela me ensinou que não devemos conter a raiva, mas sim, lidar e expôr ela pra fora da forma correta.

Ontem, eu estava no ônibus, em pé, porque o mesmo tinha se atrasado consideravelmente.Faltavam ainda 40 minutos pra chegar ao destino.E eu estava cansado.O suficiente pra dar uma leve irritação.Nada fora do normal.

Então uma mulher entrou no ônibus, se segurou perto de mim, e esticou os dois braços, me deslocando um pouco pro lado, até.

Então bateu a raiva.

Como, com tanto espaço ali dentro, ela ia querer ocupar o espaço de duas pessoas e ainda me enfiando o braço aonde eu estava ?

Pensei no que a psicóloga disse.

Ok, vou pedir liçenca.Isso vai inevitavelmente parecer hostil, mas não posso segurar a raiva e também não posso arremessar ela pra fora do ônibus.

Não pedi.Eu olhava pro lado e não via outro cenário senão o de destruição em massa caso abrisse a boca.

Esperei abrir espaço lá atrás, me movi pra lá e por sorte, arrumei um lugar sentado.Olhei em volta e nada de idosos ou grávidas.Então sem problema.

Ou ao menos parecia.

Logo adiante, um carro da polícia pegava fogo.O trânsito parou.

E aí começou o segundo tempo do espetáculo da besteira humana.

Sabe aquelas coisas que você solta no vaso, e depois dá descarga ?

As pessoas acabam soltando isso no ar, em forma de palavras e atos, quando as coisas parecem fora de controle.

É automático, incrível.Darwin deveria ter criado uma teoria chamado Lei do Ser Humano de Merda.É como eu havia descrito nesse post aqui.

Duas mulheres num banco começaram a rir alto como hienas e falar que estavam com a bunda suada já.Uma outra, em pé, começou a xingar o motorista em alto e bom som.Um garoto começou a fazer piadas de cunho racista.Outra garota ficou espantada.Uma senhora colocou a cabeça pra fora pra tentar ver o carro.Um cara começou a puxar conversa furada com uma outra garota.Uma pessoa decidiu descer e fumar.Outro sentou no chão e começou a roncar.

Tudo isso em questão de cinco minutos.Cinco minutos atrás, o ônibus estava quieto e comportado.

Fiquei pensando em como o motorista se sentia.No que as garotas da bunda suada pensariam se revissem o próprio comportamento em um momento mais sério.E se a mulher do xingamento ficaria feliz se descobrisse que o motorista era o pai dela.

Senti raiva, de novo.

Raiva da incapacidade.De fazer algo pra resolver, e de compreender os defeitos alheios.

Ao sentir raiva, me vejo tão pequeno como eles.Pois já dizia Churchil : um homem é do tamanho das coisas que sente raiva.

Se eles são errados por se comportarem como crianças aberrantes, eu sou errado por querer julgar todas as suas vidas por isso, sentado como um juiz aposentado no fundo do ônibus.

E a questão que fica, leitor, é :

Como dominar sua raiva ? E o seu desespero ?

Quem souber a resposta, sem dúvida, tem livre acesso ao coração de todos os homens.









AD INFINITUM

3 comentários:

Anônimo disse...

Wow, essa do Shopping foi tenso.
E com essas 2 situações vemos que as pessoas que se acham superiores a outras se encontram em um "xeque-mate", total desespero, sem saber o que fazer, fazem o que o restante também está tentando fazer.
Não gosto de ficar criticando a população do nosso país, mas é o que percebo: Cada vez mais egoístas!
Sempre tentando ser melhor do que o outro, ter o tênis mais caro, o relógio, celular mais desejado, etc. Na verdade vivem para as outras pessoas, não com intuito de solidariedade, mas sim de satisfazer seu ego.
Me pergunto todos os dias: Pra que tamanho egoísmo? (Que se inicia na alta sociedade, política e negócios).
Na hora do desespero também é cada um por si.
All a big shit!!!
Será que teremos que sofrer como o Japão (país da minha admiração), para aprendermos a ser solidários, ou no mínimo educados com o próximo?

Bru disse...

É assim que a maioria das pessoas tende a agir em situações de desespero, acessos de raiva, sentimentos românticos...o foco é sempre vc mesmo.
No desespero se salva quem pode. É um tal de "EU tenho que sair daqui; EU vou morrer; Eu, Eu..."
Na raiva não interessa o motivo "to P com vc e vou falar um monte mesmo!"
Nos romances o primordial é o que aquela pessoa faz por MIM; o quanto ela ME ama, e não o quanto eu luto por ela...

Como eu lido com minha raiva? Ah, sou igual chuveiro velho: Nem ligo! E quando ligo nem esquento! =P

Às vezes falar, xingar, socar não vai fazer com que as pessoas tenham mais bondade... vc é um dos poucos, Diego!

Unknown disse...

seu humor expansivo faz de você um ótimo escritor Sr. Diego (: