Primeiro, veio a tempestade.
Fechada, pesada, ameaçadora, barulhenta, com um tom de fim de história.
Foi ignorada.
Assim como a chave de casa que sumiu.E a camiseta que não caiu bem e foi trocada.
Porque pra sonhadores, histórias não tem fim.Só quando eles decidem que devem ter.
Pra bom vivenciador, meio motivo basta.
E ele saiu ali, naquela suposta chuva de fim de mundo.
Pegou um ônibus qualquer, pois todos passavam na estação.
Subiu as escadas, e ao chegar lá em cima, olhou pro horizonte.
Viu uma das coisas mais curiosas.
O céu se dividia ao meio.Meio escuro, meio aberto e claro, uma mistura de azul e rosa.
O tipo de coisa que na descrição parece sem graça.Porque Deus deu aos ares a capacidade de serem infinitamente belos, mas á nós, deu o potencial de ser assim aos poucos.Com o tempo.E ele não vivera o suficiente para ser capaz de repassar aquilo.
Entrou no trem e ali, no silêncio do transporte vedado e moderno, pode acompanhar o maior evento de todos os tempos que acontece todos os dias.
O pôr-do-sol.
Lindo.Intenso.
Queria ele ter essa qualidade.Ser tão incrível, todo santo dia, sem ser enjoativo.
Talvez ele pudesse ser.Sentia que podia.
E isso é gasolina azul pra um idealizador.
Cara, como era bom ouvir Nouvelle Vague e acompanhar aquilo de camarote.
"Dance with me, ritual of fertility"
A moça ali perto estava imersa no livro (e em um mundo paralelo, provavelmente).O cara do lado tirava tinta seca das mãos.A senhora roncava.
Ninguém via aquele gigante adormecendo.
Chegou á estação Hebraica-Rebouças.
O vento batia, a camisa xadrez esvoaçava.O MP3 enfiado no bolso, tocando U2.
Como num comercial de carro novo, a cidade parecia se abrir em câmera lenta pra ele.
Um cara meio drogado encarou.Uma moça jovem flertou.E até o segurança comentou.
Ninguém sabia daonde ele tinha saído, tão...hollywodiano.
Claro que não.Não viam nem aquela coisa enorme se pondo na frente dos narizes !
As ruas, as poças, e as nuvens.Tudo parecia desenhado pra ele.
As garotas no shopping.Os pescoços entortando.O sorriso dele se abrindo, pois, como Alice no País das Maravilhas, ele estavaa descobrindo um mundo novo também.
O mundo da auto estima, do grande potencial aflorando e até fazendo auto marketing.
E mesmo ter visto seus amigos, ou o filme tão bom, tudo aquilo, pareciam partes sincronizadas de um movimento ensaiado na vida.
As coisas seguiam o fluxo, e ele as seguia como alguém único no universo.
E ali, depois de tudo aquilo, na hora de ir embora, ele sentado na estação, vendo aqueles enormes e estrondosos Boeings cortarem os céus da cidade, bem baixos, perto do aeroporto, contrastando com arranhas céus estilosos e imponentes.
Como um admirador urbano, ele agradeceu.
Á Deus pela beleza de suas criações.
Aos homens pela cidade que construíram.
E a ele mesmo, por se descobrir daquela forma.
Parabéns, garoto.
Parabéns, São Paulo.457 anos.
AD INFINITUM
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