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sexta-feira, 11 de março de 2011

Lealdade : Virtude dos Grandes







"Pouca coisa é necessária pra transformar completamente uma vida : amor no coração e sorriso nos lábios"

Martin Luther King Jr.

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"Suava em bicas.O relógio marcava 05:40.Tinha vinte minutos para chegar.O caminho era longo, e ele logo sentiu a cãibra começar.Sua panturrilha parecia pesar uma tonelada.O pulmão chiava.

Tomado pelo espírito da obrigação e da luta, ele fechou os punhos, encarou a dor lancinante e apertou o passo.Parecia que, quanto mais rápido, mais difícil ficava.

Diego pensou porque sempre lia histórias de homens que derrotaram paradigmas, mas dificilmente pegava histórias de homens que derrotaram a rotina.Talvez porque a rotina fosse o primeiro degrau.E o que importa, para os outros, é o último.O mais alto.Porque é o que todos querem chegar.E só assim eles vão querer saber como você subiu os outros.Numa biografia não-autorizada vendida na livraria mais próxima, num depoimento aleatório no Youtube.A diferença entre uma lenda viva e um homem de valor é a quantidade de pessoas que sabem de sua existência.

Quando cruzou o canteiro, cambaleante, sentiu o primeiro raio de sol do dia bater em sua face.Uma gratidão passou pelo seu semblante.

Havia dor em seu corpo, mas havia força em seu coração.

Como é com todo guerreiro.

Diego notou que a coisa mais incrível de alcançar uma paz maior consigo mesmo, depois de descobrir essa força estável e potencial, é como ele notava melhor e com mais detalhes as coisas.O céu e os prédios já tinham uma profundidade.A formiga no jardim, o passar de mão nos cabelos da garota.A primeira brisa aquecida da manhã.

Tudo era mais intenso, respeitável, único.

Ele agora era um coração batendo no mundo.Um mundo batendo em seu coração.

Se trocara no vestiário com rapidez, e ignorou as reclamações da cintura pra baixo.Estava latejando mais do que a bateria da Vai-Vai no carnaval.Passou por todo o processo de sempre : e sorriu também ao perceber que até passar no detector de metal parecia meio diferente.Nunca tinha olhado pras paredes ali.Pros riscos.Pro vidro embaçado.Nunca tinha falado bom dia olhando nos olhos do pessoal da segurança.Sempre era um bom dia apressado, de quem quer logo sair dali e espera uma coisa melhor mais pra frente.

Andou devagar, como andam aquelas pessoas sábias e que tem as coisas no momento certo, na hora certa.Andou com um sorriso pequeno e saboroso.Sorriso sem razão.O melhor sorriso de todos.O sorriso de estar vivo.

Talvez, pela admiração eterna sobre o heroísmo, sentiu um pouco daquele sorriso esvair quando viu destruição no Japão.Talvez porque queria latejar as pernas por um objetivo daqueles.

Pensou positivo e desejou toda sua força multiplicada a cada uma das pessoas lá.Elas teriam coisas mais complicadas do que o horário de expediente e o caminho do emprego pra enfrentar.

E, em um imbróglio que não vale a pena detalhar tanto, porque de notícia ruim o mundo já está meio saturado, ele se sentiu triste, usado, otário e desperdiçado.

Não há o que falar sobre o fato.Apenas que, mesmo quando se luta a mesma guerra, do mesmo lado, você nem sempre tem as pessoas lutando com a mesma intensidade que você.

Diego aprendeu que, ele poderia lutar por um ideal, e por isso, dar todos os seus momentos por isso.Mas que o guerreiro ali do lado não lutava por isso.Lutava por puro reconhecimento e ego.Ele se abaixaria em meio ao seu caminho, e socorreria sem pensar duas vezes qualquer pessoa ferida no campo de batalha do cotidiano.Mas seu colega não parecia ser assim.Faltava coração.Sobrava ambição.Mistura perigosa.

Naquele dia, em certa parte, quando os problemas, que eram da responsabilidade de todos, se acumularam e avançaram ameaçadores, e ele se viu combatendo sozinho, invocou o nome do companheiro.

Houve um não como resposta.

Não quero lutar agora.Não é do meu interesse.Tenho ordens pra fazer outra coisa.

Dor pior do que nas pernas, a lealdade não correspondida matou por um instante o fogo da ação.

Mas não abaixou as armas.Não abaixou a cabeça.Como ferida que incentiva, continuou a lutar, e venceu ali, após muito esforço e alguns sacrifícios pesarosos.

Não desistiu de lutar, porque não lutava só pelo colega.Lutava por um ideal.Lutava para vencer aquela guerra.A guerra que tem três lados.Os que lutam para serem melhores e terem um mundo melhor.Os que lutam pelo que não presta.E os que não lutam.Ou só lutam quando lhes interessa.Quando o fazem, ainda que pelo primeiro lado, não estão realmente ali.São um agente duplo.Os braços ecoam no ar contra o segundo lado, mas o coração também clama por ele.Grande por fora, vazio por dentro.

E quando sentou, cansado, estressado, tentando não pensar naquilo, fechou os olhos e ouviu sua voz interior.Então, após um instante, as coisas voltaram a ser perceptíveis.Seu coração voltou a ter a força da paz.O sorriso voltou aos poucos.

É uma pena imensa descobrir não ter um amigo.Mas é uma honra maior continuar em frente ainda assim.

Talvez o outro suba mais rápido na escala social.Talvez ganhe mais dinheiro.Talvez tenha mais status quo.Mas aquela terra, aquele prédio, aquelas pessoas envolvidas...

Elas sabem, e elas serão testemunhas eternas, de quem esteve realmente ali.

Olhou em torno.Sorriu mais forte.

Sentia no ar.Havia gratidão em tudo.Os homens podem nem sempre reconhecer.Mas o universo reconhece seus ídolos diários.

Já dizia Einstein : antes uma pessoa de valor, depois uma pessoa de sucesso."



Aconteceu hoje.

É bom pra pensar.Você pode, você é, você faz.Não fique puto por não poder ajudar pessoas sofrendo do outro lado do mundo agora, ou porque as pessoas não fazem o que deveriam fazer, com a corrupção, com elas mesmas ou com o planeta.Ou porque elas são ocas ás vezes.

Treine a si mesmo.Quando a oportunidade chegar, você estará pronto.Pronto para escrever sua própria lenda pessoal.


AD INFINITUM.

1 comentários:

Thais Sant'Ana disse...

Alguns anos atrás, acho que tinha uns 12 anos, uma professora fez uma pergunta: "qual é chave do seu coração?". Cada um deveria responder, e eu disse que uma das chaves do meu coração era a Lealdade, e o engraçadinho da turma começou a rir, acho que ele não sabia o significado, uma pena.
( ficou otimo o texto)