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domingo, 7 de abril de 2013

Dead. (Or alive ?)




Te falaram que o mundo não girava ao seu redor. Que você era utópico. Que você estava errado. Que as coisas não eram como você via e sentia. Que as regras eram pra ser seguidas mesmo quando você não as conhecia. Que se alguém era feliz e você não, o problema era você.

Que o problema era você. E tão somente você.

Te falaram pra fazer o bem independente de quantas vezes você viu alguém não merecer o bem. Te falaram pra ver o lado bom mesmo quando o lado feio estava te espancando. Disseram que os heróis eram bonzinhos, e pediram para ignorar os bonzinhos que se foderam no caminho. Todos eles, eu acho.

Falaram, mas nunca fizeram.

E você se tornou isso daí. Pedaço de mártir, espectro exemplar do bom homem. Um maravilhoso coração, uma inquebrável alma. E uma vida vazia.

Te tornaram a pessoa ideal de um mundo novo sem violência e com forte senso de justiça. Tua cara não precisa de mais vergonha. Teu ego tá calejado, o seu saco já estourou faz tempo.

E tudo isso pra quê ?

Você foi preparado pra uma guerra que não existe. O mundo, encharcado de egoísmo e lotado de vilões não declarados que moram dentro de quem nem se pode ver.

Esperava atos grandiosos precedidos de um discurso épico, e achou mediocridades em todos os cantos da existência aqui. Indiretas via rede social. Picuinhas no trabalho. Egoísmo na família. O ônibus que atrasa, o temperamental que agride sem razão, o narcisismo que tornou a nossa geração tão vazia, o trânsito que entope as vias da cidade, a auto suficiência que nos tornou tão dispensáveis a qualquer ciclo evolutivo que se preze. Cada ação, cada leviano detalhe imperfeito já se tornou insuportável.

E pra esquecer que a vida podia ser isso aí - um amontoado de babaquices humanas, de milhões de pessoas loteadas em suas mentes, reclamando de políticos corruptos no poder quando fariam o mesmo se estivessem lá - você tentou se reinventar. Sangrou a si mesmo, bateu sua cabeça na parede intermináveis noites, se considerou um câncer na sociedade, aquele que não se encaixa em grupo algum, que a nada pertence, e destino algum deveria ter.

Você matou seus heróis, não de overdose, mas por esquecimento forçado. Você queimou seus ideais e abaixou a cabeça para homens que não valem a metade do que você vale.

Tudo isso pra se encaixar na história que você não esperava encontrar.

"O bom é ruim. O bom deve morrer. Eu não devo ser, eu devo parecer !"

E após sete meses de sol e sete meses de lua, aconteceu.

A luz se apagou. O brilho no olhar se foi. Os punhos se abriram. Morto.

Andando por aí como um zumbi a mais no indizível mundo do século XXI, ele não entendeu o que veio por vir.

Quem se interessava por ele assim deixou de se interessar. O ar se tornou rarefeito, e agora nem mesmo pular da ponte ou tomar o café da manhã pareciam ser coisas distintas no curso de sua história.

O que parecia sozinho a própria solidão se tornara, no que antes não se alinhava agora o caos era, e não havia nada em seu ambiente externo além de um total incapacidade de escrever a própria história, como um barco que perdera a antes tão exuberante vela e agora velejava ao sabor do vento tirano que um mal final gostaria de preencher.

Ele se matou em vida. Ele amaldiçoou a própria alma. Renegou o papel que a história e Deus lhe deu.

"Maldito, maldito !". É o que dizem as vozes de todos aqueles que esperavam alguém melhor, para lhe salvar das garras de um sistema invisível e que tiraniza a muitos todos os dias.

Ele não vai vir. Não mais. Suas promessas se foram com sua vida, e sua fraqueza será seu legado. Enfrentou as mesmas coisas que muitos enfrentaram, e mesmo sendo mais forte, pereceu. Por opção própria !

E a espada não está mais em suas mãos. E o fogo do destino não está mais em seu coração. E seus sonhos não vivem mais na rota da realidade. E o mundo, mesmo sem saber, ficou mais cinza.

The King is dead.

Que os sinos toquem na cidade.

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