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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sobre viver e morrer em São Paulo - Um Quase Epitáfio de Feriado





Uma amiga se despediu hoje de São Paulo.

Arrumou as malas e voltou pros simpáticos cantos de Minas Gerais. Concluiu que uma etapa importante de sua vida aqui e já não havia muito o que fazer.

Passando por cima da individualidade de cada um, tal afirmação sempre me soará estranha, eu acredito.

São Paulo é, provavelmente, o lugar aonde você pode viver qualquer tipo de vida ou experiência. Se uma etapa aqui se encerra, aqui se inicia outra logo em seguida.

Já fui parte de um daqueles casais que ocupam os gramados dos parques da cidade pra tempos depois me tornar um solteiro frequentador de pubs e rock bars, que esfolam seus bolsos em troca de algumas cervejas que não possuam gosto de urina com biotônico Fontoura.

É provável que essa cidade tenha me recebido como um garoto idealista e romantizado, lá pelos 16 anos, e agora me devolva á seus cidadãos como uma dualidade brutal aos 24.

São Paulo é minha terra mãe, meu campo de treinamento, e como tal, ela me lapidou á sua imagem.

Tal como ela, me tornei um quadro cheio de contrastes que não conseguiria explicar em um manual de psicoterapia.

Posso ser fechado e hostil, aberto e generoso, leve e bem humorado ou pesado e arrogante, e tudo isso num definido dia de 24 horas.

Porquê é bem isso que ocorre quando você vive aqui : você pode apreciar obras do Da Vinci em uma exposição e ser assaltado assim que sair dela. Não há espaço para definições estáticas nesse lugar.

Ou você se permite entrecortar seus caminhos desprovidos de qualquer razão possível, ou você irá morrer.

Meus amigos gringos dizem que minha cidade é a maior coisa urbana que já viram na vida. Que não temos a natureza de um Rio ou o charme de uma Paris, mas que a pulsação de nossas ruas os fascinam.

Sim, caralho.

Nós pulsamos caos, e nesse caos nós achamos a nossa ordem.

Entrar num bar na Augusta na sexta á noite ou num estádio de futebol no domingo á tarde é fazer amizade com vinte pessoas numa hora, e nunca mais vê-las. E ao mesmo tempo, entrar num metrô na segunda de manhã e ver dez pessoas que você verá  todos os dias por meses á fio, e nunca falar "oi".

Ás vezes vejo campanhas pedindo mais amor num cartaz colado no concreto cinza, ou um protesto pedindo alterações orgânicas na cidade.

Acho isso tudo muito interessante. Mas não será Haddad, Palomo, José ou Maria que irão mudar São Paulo assim, com uma canetada ou uma decisão zen de final de ano.

Esse maldito - e abençoado - lugar não tem dono, líder ou voz de comando. Suas mudanças partem da vontade individual misturadas num resultado final que a matemática não ousa dizer.

E talvez, exatamente por esse talvez, eu não consiga viver em outro lugar de nosso país que não seja São Paulo.

Aliás, devo dizer : já experimentaram a aventura de pegar o ônibus quando estão atrasados ou o último trem da noite correndo os 600 metros que separam a Matarazzo das catracas da CPTM ?! Não ?!

Pelas gônadas divinas. Façam isso agora ! É revigorante. Fiz ontem mesmo e creio que fiz calhar o apelido que me colocaram de "A Besta da Barra Funda".




AD INFINITUMN






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