• Twitter
  • Facebook
  • Instagram
  • Youtube

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O que a Alemanha me ensinou sobre a empatia - Parte 1




Wanderlust é uma palavra esquisita de dez letras usada para definir algo muito amplo :

O desejo fodido de desbravar novos lugares. De ver algo que nunca viu antes, de ouvir idiomas nunca ouvidos, ver paisagens nunca vistas, de ficar vinte e quatro horas muito, mas muito longe de qualquer zona de conforto.

Após o meu primeiro mochilão (ARG-URU-RJ), a única coisa que eu tinha na cabeça era uma pergunta bem retórica do porquê eu não havia feito aquilo antes.

Dito isso, eu fiz, após longo planejamento, um mochilão de trinta dias pela Europa em Julho de 2015.

Logo quando terminei e voltei á Ilha de Vera Cruz, amigos e entusiastas da empreitada me questionaram sobre detalhes e pediram textos sobre a epopeia solo no Velho Mundo.

Bem, camaradas, a experiência foi profunda e precisou ser absorvida por semanas e mais semanas á fio.

Eu tinha muita coisa na cabeça e na alma, porém, era necessário digerir tudo aquilo. Transformar numa mensagem clara, em algo que fizesse jus ao que vi e vivi, e que pudesse ser legal pras pessoas lerem, que lhes fosse ao menos útil de alguma forma.

Recebi convites para escrever sobre a experiência, como o do Anselmo Mendo, do adorável canal cervejeiro Beercast, e recomendações de gente que manja do traçado da crônica, como o caro jornalista Hiago Leal.

Cheguei á topar a ideia, mas quando sentei na frente da tela, nada saiu. Era preciso tempo pra traduzir e relatar sem omitir qualquer pedaço da experiência.

Dito isso, eu começo pela Alemanha. Não foi meu primeiro país, nem o último. Mas é provavelmente o que estou melhor preparado pra comentar sobre, nesse momento.

Cheguei no aeroporto Schonefeld, no extremo de Berlim, no começo da noite do dia 15 de Julho. Era verão, e nessa época, o sol se põe bem tarde. O aeroporto é conectado á estação de trem, então, precisamente ás 20h, lá estava eu aprendendo á comprar bilhete.

Em Berlim, o transporte funciona por zonas, assim como no Brasil. Aqui, a zona é geral quando chove, quando faz calor, quando falta manutenção e quando cobram 3,80 por um serviço meia boca.

Lá, as zonas nada mais são do que zonas territoriais, sendo que a A é a mais próxima do centro, e a C, a mais distante. Você compra os bilhetes em caixas eletrônicos disponíveis em todas as estações, e eles te dão direito a usar o trem (S-Bahn), metrô (U-Bahn) e o VLT (Tram), uma modalidade de transporte pouco conhecida no BR (usei pela primeira vez aqui no Brasil nesta semana, em 2016, no sistema em testes que está sendo implantado na Baixada Santista), mas muito popular na Europa.

Sobre o transporte, duas coisas. A primeira, é o mais eficiente, limpo e invejável que já usei na vida. Até mesmo aos domingos as opções são abundantes e a qualidade e conforto são inacreditáveis.

A outra coisa, é que bem, nem tudo é perfeito. O mapa é muito, mas muito confuso. E *não tem* informações em inglês. Apenas deutsch. Eu, heavy user do metrô paulista, que já havia usado metrô em não sei quantas cidades, me vi tendo o orgulho tolo cagado logo de cara em território fritz.

Acompanhei toda a leva de turistas espanhóis que estava na plataforma, pois notei pelas conversas ao meu lado que todos tinham o mesmo destino que eu (A estação central Alexanderplatz, aonde eu faria uma baldeação até a Rosenthaler).

O guia do hostel também indicava que aquela era a plataforma correta, então quando o trem veio, eu me dispus confortavelmente numa janela e fiquei observando as casas e árvores lá fora, devorando cada detalhe visual do caminho.

Bem, o que aconteceu é que lá pela quarta estação, os espanhóis saíram com caras de assustados e um deles se exaltou dizendo que haviam se perdido. Não falo espanhol fluente, mas após uns dias em Madrid (e uma experiência hermana no ano anterior), você pega muita coisa.

Percebi que tinha me fodido junto ao acompanhar o rebanho, contrariando os ensinamentos do National Geographic sobre sobrevivência de espécimes em movimentos migratórios.

Bem, Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra. Mais Nelson, Menos National.

Me levantei e comecei a procurar no mapa aonde eu estava. Não consegui entender a lógica daquilo que parecia mais uma mandala pintada para pessoas com TOC.

Comecei a observar as estações que se passavam, até que em uma delas, todos do trem resolveram descer. Desci junto, imaginando que fosse uma estação de integração.

Já eram 21 horas, e o meu alerta de que as coisas poderiam se complicar começou á disparar.

Pois bem. Foi aí, meu amigo, que o sauerkratz azedou e a mostarda amargou demais.

Saí andando pela plataforma e após não achar informações, resolvi abordar educadamente uma senhora de meia idade que esperava o trem na mesma plataforma.

- Excuse me, I need a information. Can you help me, please ?!

E a resposta, no maior estilo "corra que a cagada da pomba vem aí e você não tá vendo", foi num inglês claro e muito polido :

- I don't help any fucking foreign people. I won't give you one fucking information. Get out.

O que veio depois, amigos, fica na parte 2.

1 comentários:

Fiuza disse...

Teve a segunda parte ?