23 de Julho

Sentado ali, sentindo aquela frieza, aquela maldita frieza tomar conta de suas ações, os olhos distantes, ele se sentiu agonizante.Desejara aquele estado, desejara aquela frigidez, desejara o não pulsar, o fim do plano de vida perfeito.Apenas realidade, fria e crua.Foi como se tivesse apertado um gatilho para si próprio, porque é para isso que gatilhos servem, para serem acionados e acabar com vidas inteiras, e ele tinha escolhido esquecer o próprio legado.Era estranho como via o ato mau como confirmação, o bom como ilusão, o sono como castigo.Na tentativa de esquecer os gritos, correra, correu como nunca correu na sua vida antes, como se o pior dos monstros de sua vã filosofia o perseguisse, e como se o mais sofrível fogo o queimasse.Correu tanto que entrou no próprio labirinto, e se perdeu, se perdeu a ponto de não saber mais o que era ele e o que era a vida, e o próprio fogo agora arde sem ninguém, desesperado por não ter o que consumir, por ver o seu alimento se negar a existir.A cada parede que percorre, ele ergue uma a mais, e o pior, não se sente mal, não, é bom, é bom, mais paredes, cada vez mais...deixe o enclausuramento, que é tão feio aos outros, e tão belo, porque isola, porque unifica...já não sou mais o vazio, já não sou o todo, sou apenas...sou quatro horas da manhã.Sou o meu próprio deserto.Aonde estou, não sei, mas eu não deveria gostar deste veneno, o veneno da derrota, e ah, ele é doce, é atraente...me fará dormir o sono dos justos, fará sim, porque não há mais nada ao redor além das paredes construídas tão febrilmente dia e noite, não é ? Aqui ninguém irá alcançar.Apenas eu, e apenas as soluções dos problemas que não se sabem quais são.Cada poço um mundo, e cada mundo uma corda, e cada corda uma sentença, fria como a noite, fria como a alma, fria como o coração que se nega a bombear coragem.Tudo parte de quem ? Parte dele ? Porque ? Isso não importa, os muros são fortes, assim como sou, e o copo está em minha mão...




AD INFINITUMN