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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dó.







Dó.Não é a nota musical.

Ter dó de alguém é como cheirar merda.Sua feição se comprime, seus olhos se estreitam e você olha o alvo da dó como alguém que precisa de algum tipo de ajuda, melhora, ou simplesmente ser varrido dali.

Ser alvo da dó de alguém é pior ainda.Não é como cheirar, mas como comer a merda.Não, eu nunca comi.Mas imagino como seja, e é assim que tu se sente quando está nesses dias.Quando se é alvo da piedade gratuita alheia, geralmente, estamos praticamente no fundo do poço, sem dignidade ou em péssima fase.E, da mesma forma como deveria ser comer merda, nesses dias tu quer esconder a cara, mal aguenta abrir a boca pra falar e acha que ser eleito presidente do Afeganistão seria um acontecimento muito feliz.

Que fique bem claro : Ninguém é digno de dó.Dó não traz dignidade.Trabalho, esforço e luta, sim.Só se tem dó de alguém que pré-julgamos estar em estado inferior.Por isso, quando alguém dizer que tem dó de você, diga mentalmente : enfie a sua dó no rabo.Mentalmente, porque ninguém quer um mundo violento.


Eu só tive dó de três pessoas nessa vida.

Três, e acho que só uma foi realmente de se orgulhar.



A primeira foi quando eu tinha meus dez anos.

Augusto*, era um garoto de feições indígenas, tímido como sua irmã mais nova.

*Nome fictício pra preservar qualquer comparação e a identidade.

Mas não era por conta da personalidade.Era por conta da educação mesmo.Todo mundo percebeu rápido que ele não foi criado nos moldes considerados ideais pra civilização.

Primeiro, porque era lento demais até pra cumprimentar.Parecia observar cada movimento como se estivesse aprendendo uma nova língua.

Segundo, porque sua fala era pasmacenta, arrastada, com uma dicção terrível."Pruoufessoura" era uma das suas palavras mais citadas.

Mas, como todo ser humano, o garoto tentou se socializar.Fez umas amizades, começou a ter ego.

Legal, Augusto, legal.

Mas um dia Augusto quis ser mais legal do que a ingenuidade permitia.

Um dia estava eu na sala, escrevendo qualquer coisa no caderno, quando vi ele entrar na sala.Entrou rindo com a mão na boca e algo na mão.Não vi direito o que era, só sei que ele guardou rápido na bolsa.

Ótimo Augusto.Tu roubou o cofre do Bradesco.

A aula se estendeu, e ele parecia mesmo orgulhoso de algo feito.O sinal bateu, todo mundo colocou o caderno na bolsa e então, quando o caderno dele bateu no fundo da bolsa e fez "splosh", o sorriso dele virou aquela cara de quem comeu merda.

Lembro-me bem que quem perguntou pra ele o que ele tinha feito foi Vinícius, o Amendoim Japonês, apelido esse que me recuso a comentar o motivo.Só digo que ele não era japonês.

Então, com a cara se contorcendo cada vez mais (e cada vez mais pessoas paradas pra entender o porquê daquele rosto que já parecia quase uma obra de Tarsila do Amaral), Augusto tirou um caderno banhado em banana amassada da bolsa.Não vou mentir : senti dó pela primeira vez dele.E ri, ri muito, porque o contraste do caderno com bananas a milanesa com a cara dele era de matar.Ri como era permitido rir na minha idade.E senti dó como era permitido sentir pra quem não tem consciencia do que é humilhar alguém.

E eu achei que seria a primeira e última pro Augusto.

Não foi.

Outro dia, com vergonha de pedir pra professora, que sejamos justos, não era um exemplo de candura, ele usou a cadeira de privada.É, ele se melou todo.Naquele dia rimos mais ainda, e naquele dia, senti mais dó mais ainda.Ah, é tão bom ser hipócrita quando criança.

Lembro que ainda assim, no último dia de aula, ele chorou porque ia mudar de escola, e eu, num dos poucos gestos que me lembro em relação a outros na infância, consolei ele, e etc.Acho que foram essas minhas pequenas iniciativas na época de pivete que me fazem pensar que ser bom não é só uma loucura pós-adolescente minha.


A segunda pessoa, foi o professor Arnaldo*

*Outro nome fictício.

Ótima pessoa, professor de português e alemão.Gay.Isso não é um problema, pelo menos não deveria ser em uma sociedade igualitária e democrata.

Mas numa sala de sétima série isso é o inferno.Alie isso á falta de jeito com garotos indisciplinados e controle emocional fraco.

Perdi a conta de quantas vezes fizeram ele sair tremendo da sala.Ou de como jogaram o cesto na cabeça dele, o cesto encaixou e gritaram "cesta !".Ou de quantas vezes ele conversou com meus pais e foi extremamente gentil com eles, mas o pior, não só com eles, mas com os pais dos que o perseguiam também.

Ele se afastou por motivos de saúde psicológica dois anos depois.

Hoje está readaptado.E bem, pelo menos na última vez que o vi.Que bom, Arnaldo.Odiaria ter que sentir dó de você.Você não merece.Você é bom.

E o último, haha.

O último não ficou sem cueca na frente da escola, não foi humilhado, não teve a história de que mijava na cama espalhada no serviço.

O último só fez uma merdinha.Disse algo errado.Muito errado.

Ah, último...eu não vou nem citar seu nome.Não quero um processo, vai ficar mais feio pra todo mundo.

Mas o último só disse uma coisa : "Eu adoro viver.E olha que trapo de gente você é..."

HAHAHAHHAHAHAA

Ei, último, isso foi a malditos sete anos atrás.Você nem deve lembrar de mim.Mas vai lembrar.Vai ter pesadelos comigo, e nem é por maldade minha.Mas é que vai ser um golpe duro ver o trapo lá no topo.Lá onde as pessoas que "adoram viver" deveriam estar.

Só um aviso : Enfie a sua dó...ah, deixa pra lá.Falo pessoalmente algum dia.



É assim que deve-ser.Ajudem os necessitados, não passem a mão na cabeça, ensinem a sair daonde estão.E quebrem os joelhos de quem acha que anda acima dos outros.Linguagem figurativa, Ministério Público, não tire meu blog do ar.



AD INFINITUM

2 comentários:

putresco disse...

HAHAHAHAHA! Eu conheço os dois primeiros, hahaha! Trabalhei com a irmã mais nova do "Augusto". Eu tretei com ele na escola!

O segundo realmente é O cara, só que isso não cabe muito bem, ele é guêi, uma grande pessoa.

O terceiro não me lembro, não devia estar perto de você na hora, não vivemos grudados, mas se lembrar vai apanhar.




Eu sou tosco mesmo, vai ver fui eu que falei...


Seu caro raro tosco leitor númemro um.

Unknown disse...

er.. ahn... acho que prefiro não comentar o.o

estou pasma.