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terça-feira, 18 de maio de 2010

Under the burning sun...




I take a look around,
Imagine if this all came down... (Oblivion - 30 seconds to mars)


Sabe, ás vezes você liga á televisão e fica sabendo : ator de série americana famosa dos anos 80 é flagrado dormindo com moradores de rua e fumando crack.

Esse tipo de coisa geralmente choca por saber o quanto alguém pode decair.

Dor.Sonhos perdidos.Dignidade jogada no lixo.

A terça-feira começou nublada com alguns lampejos de sol tímido.Assim como o meu humor.Solene, sóbrio, sem cor.Mas com algumas tentativas de sorrir.

Não havia acontecido nada de muito diferente naquele dia.Toda a burocracia da vida : Acordar, escovar dentes, exercitar, estudar, se arrumar, pegar ônibus.

Até aí.

Até descer do ônibus.

Caminhei até o farol.O sol batia em meu rosto sem me queimar.Um sol de fim de tarde.Um sol de fim de algo.

Olhei para a esquerda.Uma garota, andando de forma frágil, vinha com um bebê no colo.Tossia.O sol me impediu de ver o rosto.Voltei minha atenção novamente para o semáforo e para meus pensamentos.Estava o dia todo pensando naquilo.

Então, olhei novamente.

Droga.Merda.Bullshit.Puta que o pariu cara, fodeu.Fodeu mesmo.

Eu reconheci aquele rosto.Reconheceria até mesmo nos meus últimos dias de vida, com as vistas já prejudicadas e o cérebro já em ritmo desacelerado.

Era Ana*

*Nome fictício

Ana foi uma garota que há um ano atrás surgiu no balcão do meu setor, em uma noite de sexta feira, com um vestido preto lindo, lindo mesmo.Tinha um sorriso encantador, era quase hiperativa na forma de se expressar, e era inacreditavelmente expansiva para um tímido como eu.

Naquele dia ela me deu o MSN e a senha em um papel para que eu pudesse pegar um arquivo pra ela.Durou uns dez minutos.Eu poderia ter adicionado e tudo o mais.Mas não fiz.Só olhava ela de vez em quando, e tentava me beliscar pra não travar.Ela era tão linda e graciosa como uma rosa.E havia mais do que isso.Havia uma inocência.Havia uma pessoa boa transparecendo ali.

E quando ela foi embora, se eternizou na minha história.

Volta e meia eu pensava nela.

Nos cruzamos mais sete vezes.Em uma delas, ela não conseguiu abrir uma porta que só estava emperrada, e eu disse "abracadabra" e dei um leve empurrão, e a porta se abriu e os dois, vermelhos, riram da própria capacidade de serem bobos.

Nas outras cinco ela também fez a diferença.Nunca fora formal comigo.Nunca era só "boa noite", "por favor", "obrigado".Sempre tinha alguma piada, sempre tinha alguma conversa puxada.

E o notável : sempre nos cruzávamos em lugares diferentes.E ela sempre abria um sorriso ao me ver.

Fazia um bom tempo que eu não via a garota do vestido preto e sorriso bonito.

E agora eu estava vendo ela de novo.

Ana.

Chinelos gastos, roupa largada, uma criança no colo e tossindo, demais, demais.Saúde frágil.

Ela parou ao meu lado.Estava arrumando a fralda do bebê.

Eu olhei rápido e virei.O tempo continuava devagar, o sol continuava manso, apenas o barulho longe dos carros e o semáforo eterno.E Ana.Ana e o bebê.Ana do sorriso perfeito, Ana que talvez eu amasse sem nem perceber.Ana que sorria pra mim de uma forma que ninguém sorria mais, e isso sem eu nem ter feito nada de grande pra ela, sem nem me conhecer direito.

Eu percebi pelo canto do olho.Ela olhou pra mim.Ela sorriu pra mim.Mais uma vez.

Eu não consegui encarar.Estava doendo.Estava doendo te ver assim, Ana.Não sei se era mesmo seu filho, mas isso era o de menos.Era ver você doente, arrastando os pés, como se estivesse para morrer ali mesmo, como se MAIS uma pessoa importante, mais uma lenda viva de minha história estivesse para me deixar.

Eu não aguentei.Não esperei o semáforo fechar.Atravessei correndo, entrei no trabalho, me sentei no parapeito do terceiro andar e observei o horizonte, e o sol que se colocava.

Esperei meu coração parar de disparar.Esperei meu espírito parar de gritar "Covarde ! Você deveria tê-la ajudado!".Esperei meus punhos se abrirem, e meus dentes relaxarem.

Respirei fundo.

Abaixei a cabeça e voltei pro trabalho.

Seja lá onde você estiver, me desculpa.Você é a imagem perfeita da minha alma : cansada, abatida, mas ainda em pé, ainda andando, e com aquele velho sorriso, como uma última resistência.

Eu atravessaria de novo no meio daqueles carros buzinando só pra te abraçar.Só pra dizer que eu gosto demais de você pra deixar você andar por essa cidade cheia de malucos e egoístas com um bebê no colo e mal conseguindo ficar em pé.

Mas eu não fiz isso.E isso por que eu gosto de você.




"E Clarisse só tem 14 anos..."





AD INFINITUM

3 comentários:

Oissac disse...

Se o que você sente é realmente verdadeiro, corre atrás de quem te faz bem. Sempre vale a pena lutar por aqueles que nós amamos, seja família, amigos, e sorrisos...
A sua felicidade pode estar do outro lado da rua.
Ótimo post cara. Um abraço.

Isabel Silva disse...

Vai atrás do sorriso sincero ...


Ótimo post, quem sabe o sétimo dia não está próximo??

Beijos, É sempre bom passar por aqui!

:DD

Unknown disse...

Que situação, hein, meu amigo?
É doloroso demais ver alguém que a gente gosta em trapos, acabando-se sabe Deus como, ou por que.

mas porque fugir?
não compreendo...

Lembro-me de um Diego que não costumava fugir de coisa alguma, sabendo que, por mais difícil fosse uma situação, com seu 'toque', poderia mudá-la.

Como andam seus planos de tornar o mundo um lugar melhor?

Não me venha dizer que desistiu.
Porque o meu amigo Diego também não é de desistir..

Sinto falta de conversar com você.
O mundo tá girando, as coisas tão mudando... e as pessoas?

pelo visto, as pessoas também...

mas eu tenho ainda vivo em mim o sonho e o desejo de ve-las mudarem pra melhor... e não regredirem.

pelo que me lembre, compartilhávamos desse mesmo sonho...

Oi, Di. Você ainda está aí?

To mandando sinal de fumaça, pra você não esquecer que eu me lembro sempre, o tempo inteiro, de você.

Queria poder ser mais presente em sua vida, me perdoe.

Um beijo.