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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sweet dreams are made of this...



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"Os sonhos são ilustrações... do livro que sua alma está escrevendo sobre você." (Marsha Norman)


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Ele pegou o trem da linha 9 - Esmeralda.Desceu naquela estação que ainda tinha o shopping, o mesmo shopping que até algum tempo tinha um parque temático de um apresentador da televisão, e meses atrás teve uma parte do teto desabado.


Não importava pras pessoas ali presentes. Andou por entre elas, entre as lojas.

Havia uma garota.Cabelos loiros, olhos azuis, em um corte curto e um sorriso bonito.
Vestia um uniforme, de uma escola de Osasco.Era bonita como uma daquelas imagens que você olha e se pergunta quanto trabalho o artista teve pra reproduzir.

Ele pensou sobre aquela coisa de ser tímido e nunca ir atrás de quem lhe interessava.Essa era a hora.

Chegou perto dela, a cumprimentou e fez uma leve brincadeira sobre a escola. Ela sorriu de forma quase imperceptível, olhou para os lados, e ele percebeu que estava retraída porém havia gostado da abordagem. Começaram a conversar sobre as coisas, a vida e o mundo.Olhavam as lojas, olhavam as pessoas.Tudo parecia incrivelmente fácil no desenrolar.

E ele se perguntava porque não havia feito isso antes.Sempre se perguntando.Ao menos agora era uma pergunta sem relevância, já que a realidade era boa demais.

Decidiram pegar o trem pra ir embora.Ela puxou ele pra perto, e ela o beijou.E ele então entendeu o sentido da palavra paraíso. Pegaram o trem, e ela lhe disse que na verdade não morava em Osasco.

Morava ali no centro de São Paulo.

Ele conhecia tudo ali muito bem, também, e decidiu acompanhá-la.Não importava muito quais compromissos tinha depois.Era ela, e ela.
Foram até o centro. Estava chovendo.Não forte, mas chovendo.Ainda assim, a calçada estava apinhada de vendedores ambulantes, e passaram vendo e avaliando todas as coisas que lá haviam. Um dos vendedores, jovem, mexeu com ela, se interessou, e ignorando a presença dele, tentou tirá-la para um encontro particular. O diafragma dele se comprimiu de ciúmes, mas antes que pensasse em fazer algo, ela deu uma tirada mais do que inteligente, olhou pra ele, puxou sua mão e sorriu.

E ele descobriu que já a amava.

Foram até a casa dela. Era um casarão enorme.Enorme, mesmo.Em meio a todos os prédios em volta, inclusive um que ele mesmo havia trabalhado, aquele casarão, resistindo aos avanços do tempo.

Já o tinha visto antes, mas como imaginar que ela, logo ela, viveria ali ?
Bem, o fato de ser tão perfeita e diferente das outras garotas já indicava que ela poderia ter coisas diferentes em sua vida também, como uma casa assim.

Pensou em entrar e conhecer os pais.O rosto dela apagou o sorriso e ela disse que era melhor não, por enquanto.

Ele entendeu.Ou quis, pelo menos.

Foi então que uma daquelas portas imensas de carvalho se abriu e uma mulher alta, com vestido de gola preto, pele pálida e uma cara um tanto quanto arrogante, abriu um sorriso dos que não eram bonitos e disse "ora ora, o que temos aqui.Traga ele para conhecermos".

Ela apertou a mão dele tão forte e seus olhos lacrimejaram com tal velocidade que ele teve uma vontade realmente forte de tirar ela dali.

Mas ele entrou.

Corações de leão não negam um bom desafio á própria coragem.


Entrou, e viu uma sala completamente bem mobiliada, com móveis antigos porém conservados, talvez da década de 20, quem sabe. O pai dela veio lhe cumprimentar. Alto, cabelo penteado para o lado, branco, óculos, sapato, calça cinza escuro social e uma blusa vermelha de lã, com o símbolo de uma daquelas faculdades internacionais tão aclamadas. Abriu mais um daqueles sorrisos que não agradavam. Disse em alta voz, um tanto quanto desconexo, que ele parecia um bom garoto. Haviam mais pessoas, umas seis. Além do casal de pais sombrios, havia uma irmã grávida, que parecia histérica nas vezes que abria a boca pra fazer piadas, um mordomo alto também (estava começando a se sentir anão, e ao olhar pra ela, via que ela era menor ainda.Como poderia ? ) e de fisionomia tão grave quanto uma sinfonia de Bach, parecendo mais uma peça de museu móvel do que um ser humano.

Além deles, percebeu um senhor sentado a mesa, além de mais três pessoas ao lado dele.Estavam todas de preto, também, e jantavam cabisbaixas.O senhor vestia uma blusa cinza claro, óculos meia lua, e tinha, aleluia, uma aparência agradável e bondosa.

Mas ela continuava lá.Apertando a mão dele.

Seus olhos pareciam pedir desculpas.Desculpas pelo quê, Deus ?

A mulher alta e desagrável, de repente, perguntou como ela, segundo as próprias palavras, 'uma garota idiota e feia como você consegue arranjar um garoto assim.A aberração da família também é a mais sortuda', para em seguida, junto com o marido darem uma risada alta.E antes que ele pudesse demonstrar surpresa, ou responder em defesa dela, a mesma mulher acrescentou que 'ah! já sei! É porque ele é idiota também.Olha só como ele parece uma criança ingênua, também deve acreditar em todas aquelas coisas de amor e paz, e mundo.Idiota!' e então, não só o casal, mas as pessoas de preto sentadas á mesa, também riram, e ele sinceramente não viu dentes nas bocas que se abriam.

A mão ossuda da mulher pegou em seu ombro.Passou para o queixo, e levantou seu rosto.Havia uma frieza mórbida ali, e ele sentiu falta do calor da garota. A mulher fez questão de mencionar que adoraria tê-lo lá em cima.Entendeu lá em cima como algo pervertido. Outra risada terrível. E a garota chorava.E ele ameaçava chorar junto, não por conta de toda aquela merda humana (humana, mesmo ?) ali reunida, mas por causa dela.

PORRA, ele precisava dar um jeito, por ela.
Bateu na mão da mulher, tirando aquela mistura de carne podre e osso perto deles.Ela ralhou, olhos furiosos, olhos que adorariam ver morte e dor, e gritou o nome do mordomo. Ele se aproximou, com a mesma droga de fisionomia impassível. E então o garoto se preparou, pegou a mão dela e disse 'vem comigo'.Mas o pai, de óculos e filhodaputamente estranho e sádico, a segurava, com um sorriso irônico. O garoto levantou o punho para acertá-lo, e então uma força incrível o puxou com os dois braços.O mordomo cheirava a açougue, e apertava tão forte que mesmo sua vontade e sua raiva não eram capazes nem de diminuir o aperto em seus ossos. Agora as pessoas de preto na mesa riam tão alto e batiam tão forte palmas que pareciam prestes a terem um ataque. A garota grávida parecia rir, mas ao rir, chorava junto, como se lamentando lá no fundo a sorte da irmã e do garoto amado. O senhor bondoso olhou com um olhar que envolvia a maior dó que ele já vira em sua vida.E o mesmo senhor disse : 'eu não aguento mais.Não façam isso com ela, me matem, acabem comigo, mas não façam isso com minha neta'.Suas mãos foram ao rosto para segurar as lágrimas, e o garoto então viu correntes em seus braços. Olhou pra ela.Os olhos azuis e bonitos.Choravam.Sua boca se abriu e gritou EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ, CARALHO.

Ele lutava, esperneava, tentava com tudo que lhe era possível.


Nada.

Foi jogado na calçada, á chuva.Pessoas olharam e continuaram a andar.A porta se fechou e abafou os risos.
Voltou, abalado, derrotado como nunca, a um canto.

Andou, respirou fundo.


Deveria haver um jeito. Sentou próximo a uma daquelas barracas.E então, viu alguém se aproximar da casa. Um homem com o colete da Polícia Federal. O garoto foi atrás, como que pra pedir ajuda.E antes que conseguisse, o homem, com arma em punho, arrombou a porta e entrou.O garoto entrou atrás. A mulher sombria foi a primeira a avançar.Dois tiros. O homem de óculos o próximo.Mais um, certeiro.Então, o garoto só tentou ver aonde ELA estava.Foi para os fundos.Ainda com tempo de ouvir mais tiros. Ela não estava lá. O homem da PF chegou, e com calma, perguntou se eu havia achado mais alguém.Eu disse que não.Ele arrombou outra porta, e havia apenas um guarda roupa antigo, um quarto escuro e uma pequena fresta de luz. Abriu a porta do guarda roupa.E o corpo da garota grávida, agora não mais, caiu. O policial falou rápido ao rádio, e saiu em disparada. O garoto se sentiu desesperado, agoniado, aterrorizado.

Uma hora estava no dia mais feliz da sua vida, e agora, não só havia perdido de vista a garota, como também tinha lidado com uma das piores sequências de cenas da vida que já vira, ou pior, atuara.

Aonde estava ela ?
Ao sair da casa, repórteres filmavam tudo. Olhou para uma televisão. "Familia acusada de maus tratos e bruxaria reage a pedido de intervenção e acaba morta".

Segundo a reportagem, um homem, que havia namorado com uma mulher da família, havia entrado com pedido na justiça, depois que a mesma mulher engravidou e a família simplesmente negou o direito de vê-la depois disso. Segundo o mesmo, a mulher mudara muito nos últimos dias em que se viram, partindo do que seria um comportamento normal para algo quase psicótico.Além disso, haviam marcas em seus braços, que ela nunca quis explicar.E ele já não tinha mais interesse nela devido a isso, apenas em cuidar do filho. O garoto pensou que se ele a visse rindo e chorando ao mesmo tempo, talvez percebesse que essa mudança não era bem de iniciativa própria.

Havia uma certeza mórbida em seu coração.A de que nunca mais veria a garota que amava.De que perdera sua última chance no paraíso.Havia agora apenas a cidade e suas pessoas á parte.E sua vida, pesada novamente.

Seus olhos se fecharam.Chorou.




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Acreditem, isso foi "só" mais um dos meus sonhos.Resolvi postar.






AD INFINITUM

3 comentários:

Oissac disse...

Caramba, que sonho incrível!
Espero que você encontre o paraíso em algum outro sonho, ou quem sabe, até mesmo na realidade.
Pra variar, muito bom o seu post.
Um forte abraço, e até o próximo post.

Unknown disse...

Nossa! O.O Arrepiei!

Muito interessante seu sonho =]

E eu continuo achando que sua mente é brilhante demais pra continuar "só" postando em um blog.

Vc devia cogitar a hipótese de ser escritor...

...escritor PROFISSIONALMENTE falando... =]

Mybiggestmistake disse...

Pelo nível aterrorizante e incrivelmente coerente do sonho...eu iria preferir acordar a tapas do q continuar a "viver" essa história.
Que medo rapaz OO.
Mas aprecio a riqueza de detalhes e a preocupação em trazer o leitor ao seu mundo =)
beijos ;*