Quando eu era criança, eu achei a coisa mais legal do mundo quando vi uma vez na TV um cara na frente de uma fila de tanques impedindo a passagem dos mesmos.
Eu nem era crescido o suficiente pra entender o que era um regime comunista, mas eu entendia que aquilo era um ato de desafio realmente louvável, e o cara não parecia raivoso ou louco, e sim completamente certo de que o que estava fazendo era necessário e nobre.
Quando eu cresci, fiquei sabendo que o protesto daquele "pequeno" homem (pequeno só no tamanho físico) foi em um ano no qual aquele país em que se encontrava havia aberto seu território e sua cultura aos olhos estrangeiros, através de seus jornalistas.Um país com líderes opressivos e que queriam a todo custo mostrar uma imagem de gigante, de imenso, de todo-poderoso, e que queriam que pensassem que seu poder era imensurável e seu povo disciplinado e leal a seus objetivos.
Mas que não respeitava o lado humano de seus habitantes.
O homem, apesar de tudo, SONHAVA com liberdade.
E então, aquele homem estragou tudo pros caras.
Ficaram furiosos, pensei eu.
E ficaram mesmo, pois nessa mesma semana, milhares de pessoas foram ás ruas protestar contra o bloqueio de suas vontades individuais e seus desejos de irem atrás do que gostavam, um bloqueio quase secular.
Gerações, avós, netos, amigos, intelectuais, analfabetos.
Todos estavam lá, sendo filmados, marchando pacificamente com faixas pedindo um pouco do que mais tinham de valor ao nascer : a liberdade.
Pela primeira vez, os líderes pareciam ter seu povo saindo do controle e criando inteligência e vontade própria.
E na frente de todos seus adversários do Ocidente.
Que vergonha !
Então, enviaram seus tanques para as ruas, e seus soldados para as vilas.
E centenas - não é um erro, leitor - centenas de civis honestos foram mortos diante de todo o mundo.
Ainda assim, o homem não pensou duas vezes antes de se meter frente a tanques, mesmo sabendo que passariam por cima de seu corpo sem ligar muito pra isso.Ele parecia acreditar firmemente que seu sonho era possível.
E o piloto do tanque, em vez de seguir em frente, como seu general colérico provavelmente mandava via rádio, tentou desviar do homem.
Se negou a seguir tal ordem absurda.
Os líderes não acreditavam no que viam.
Absurdo para eles eram dois cidadãos, um civil e um soldado, criando livre arbítrio.
Os anos se passaram.O reino opressor aumentou a liberdade de seus cidadãos, se tornou um dos maiores reinos da atualidade, realizou Olimpíadas, mas ainda mantém seu controle de longe, e nunca admite que aquilo que aconteceu em 1989 foi um massacre, o Massacre da Praça da Paz Celestial.
Hoje, onze anos depois, ninguém se lembra direito quem foi Deng Xiaoping.Talvez um estudante aplicado de história ou um especialista em história da China.Ninguém se lembra direito quem foi esse, que era o LÍDER de todo esse governo, o LÍDER de toda a repressão.Alguém que sentava em grandes cadeiras e aparecia todos os dias em todas as televisões.
Mas quase todo mundo sabe da imagem do pequeno homem em frente a fileira de tanques.Quase todo mundo olha e diz "uau !" ou "que cara corajoso !".
Naquele dia, o pequeno homem se tornou maior do que um país inteiro.
E ficou marcado pelo resto da eternidade em nossas memórias.
Influenciou, influencia e influenciará muita gente a ir atrás do que deseja de melhor.
Regimes passam, tiranos caem, pessoas morrem.
Mas os sonhadores ficam para sempre.
AD INFINITUM
1 comentários:
Os maiores gigantes do mundo, são grandes não por poder financeiro, e nem, por nível de conhecimento. Os maiores gigantes do mundo, são aqueles que correram atrás de seus sonhos. E o mais incrível é que eles não buscavam sucesso, dinheiro, e nem poder. Eles buscavam apenas a verdadeira realização de seus sonhos. São eles Jogadores de Basquete, Corredores, Pais e Mães, sonhadores.
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