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sábado, 2 de abril de 2011

Antropocentrismo dos Idiotas






Eu ando pela cidade cheia num sábado a tarde.Vejo o céu se fechando em nuvens de um lado, e aberto para o sol em outro.Vejo crianças correndo, pessoas comprando, casais se amando, artistas inventando.

Ando por ali, como uma sombra que não quer nada.Há um objetivo no andar, há um lugar a alcançar.Mas nada disso parece importar.

Eu sou parado por uma mulher enfaixada que saiu do hospital depois de ter sido atropelada. Ela me pede dinheiro pra passagem.Eu dou.A feição dela muda como alguém que foi atropelado de novo.Eu cruzo a avenida, e levo um mp3 quebrado pra arrumar.O defeito era tão simples que o técnico diz que só pagando um café já está tudo quite.Eu tiro uma nota de dez e agradeço.Ele me olha agradecido e surpreso.Compro um sorvete, pois o calor está terrível.Mal começo a tomar quando pego uma criança de rua me encarando com a mão na boca e um olhar perdido.Aquele olhar que eu sempre tenho quando vejo uma garota linda e, na minha cabeça, inatingível.Eu dou o sorvete pro garoto e ele solta um sorriso que eu não teria a capacidade de dar.

Será tão raro pras pessoas cruzar com outras que dizem "sim, tudo bem" para suas necessidades ?


Passo pelo túnel subterrâneo da estação.O lugar fede á urina, há moradores de rua pelas paredes, é escuro, mal se dá pra ver o rosto das pessoas.Um deles fuma crack.O outro fuma e briga com a mulher.E naquele segundo, fiquei pensando.Qual a diferença entre um viciado e um engenheiro ? Não é piada de humor negro.É uma pergunta séria.Porque alguns tem seus segundos perdidos em um lugar tão horrível enquanto outros passam a lua-de-mel no Caribe ? Por conta do capitalismo ? Eu acho que essa resposta é uma desculpa simples demais.Vejo mulheres perfumadas passando por aí.E vejo a mulher do viciado, suja, apanhando, perdida.Porque, porque essa diferença de destino ?


Chego ao ponto de ônibus e vejo a tempestade se aproximando.O vento bate leve, como que oferecendo compania.E vendo todo aquele movimento, e sentindo toda aquela energia, eu penso : Deus, qual a forma de ajudar a equilibrar isso tudo ?

Esses dias a floresta perto do meu trabalho começou a ser derrubada.E ontem vi fotos da cidade de São Paulo nos anos 60.E hoje vi cenas da guerra na líbia.E hoje vi um homem querendo vandalizar um ônibus porque este parou na faixa de pedestre alguns segundos.E hoje eu vi um deputado falando besteiras demais, e hoje eu vi uma pessoa famosa retrucando e criando mais confusão ainda por conta disso.E hoje vi as coisas que eu disse aqui.

E, depois de trabalhar, de sair e ver o que vi, de fazer o que fiz, eu cheguei em casa e vi minha cachorra abanando o rabo pra mim.Cheguei e vi o sol se pondo.Cheguei e senti o movimento dos galhos da árvore contra o vento.

Coisas que estavam ali há muitos séculos.Árvores, ventos, animais de estimação.E que ainda assim, continuam singulares até hoje.Tudo tão...perfeito, harmônico, pacífico.

E bastou, veja bem, bastou uma garota em especial entrar no MSN para eu ficar ansioso, com o coração disparado e inseguro.E ela saiu sem mal falar duas palavras.


E então, ali, naquele momento, apenas um pensamento bombeava minha existência.


Porque, nós, homens, seres fantásticos de inteligência vasta, detentores de sentimentos e história, e consciência, e da capacidade única e intransferível de mudar e decidir o próprio destino, nos sujeitamos assim ?

Porque somos humildes e abaixamos a guarda na hora de enfrentar os problemas, e somos arrogantes e iludidos quando lidamos com as outras pessoas e coisas ?

Porque a mulher do crack não é a mulher que atrai olhares apaixonados ? Porque o viciado não é o motorista que poderia dar a carona á mulher acidentada ?

Porque eu, Diego Freitas Palomo, 21 anos, escritor, trabalhador, sonhador, honesto pra caralho inclusive na hroa de se criticar e de questionar, e que se esforça para ser melhor, tem que ficar dependendo de compania de pessoas do sexo oposto pra se sentir melhor ?

Porque, com tanta gente precisando ouvir palavras de apoio, com tanta coisa precisando ser resolvida, com tanta força-tarefa faltando pra atividades nobres e humanitárias, nós passamos tanto tempo falando mal, fazendo merda, dando porrada nos outros ?

Porque, em um mesmo mundo, viveram Gandhi e Hitler ? Qual a diferença ? Você acredita mesmo que existe uma polarização entre o bem e o mal ?

Eu não acredito.

Acredito que todos nós somos bons em nossa essência, nos esquecemos disso e vamos nos transformando em monstros.Já percebeu como quando alguém conta uma história de violência ou negativa as pessoas acreditam fácil, mas quando contam uma história de coragem ou nobreza fantástica, a incredulidade rola solta ?

Nós não gostamos de encarar o fato de que estamos sujando a nós mesmos.

E eu não acho que seja fácil.Não é.É um vício de pensamento, um vício de ação.Vocês acham que eu me sinto bem travando e ficando ansioso por causa dessa dependência do sucesso da vida amorosa ? Vocês acham que o viciado queria ficar pra sempre no vício, e que a mulher queria ficar pra sempre sendo maltratada ?

Eu não acho.

Mas, a pergunta que ainda assim impera aqui, no meu coração, na minha mente, na minha alma, é uma só :

PORQUE RAIOS NÓS OPTAMOS POR SER TÃO ESTÚPIDOS ?


Queria ser como o vento, ou o pôr-do-sol.Queria ser a parte fundamental e indispensável do meu dia e de todas as pessoas.


Ser humano dói demais.





AD INFINITUM

1 comentários:

Mybiggestmistake disse...

"Queria ser como o vento, ou o pôr-do-sol.Queria ser a parte fundamental e indispensável do meu dia e de todas as pessoas."

Eu li essa frase três vezes, na primeira eu admirei a composição... na segunda eu senti que esse seria o escrito perfeito pra lápide de um suicida...e na terceira eu finalmente sorri.