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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Humor : Porque ele está morrendo (e você também)










"Rir é bom,  mas rir de tudo é desespero"


Barão Vermelho - Amor pra Recomeçar



Certa feita, estava no centro da cidade indo para uma aula no sábado, quando me deparei com uma das comuns rodas de gente que se forma por lá.

É bem cotidiano que artistas, mágicos e religiosos se apresentem por ali, e sempre há um numero suficiente de curiosos em volta para atrair outros mais.

Sendo assim, eu estava passando reto e não me interessei pelo centro das atenções. Mas uma risada geral me fez parar e olhar, de longe, o que se passava.

Havia uma televisão no meio da praça.

O aparelho transmitia um famoso personagem feminino (interpretado por um homem, já com a intenção de sátira) que passa por apuros e conversas dentro de um vagão de metrô lotado.

Tanto o personagem principal, chamado de Valéria, como os coadjuvantes se vestiam mal, possuíam defeitos como dentes tortos, fala lotada de erros e um auto escárnio assombroso.

Ainda sim, o quadro era um sucesso absoluto, e a televisão era de um vendedor ambulante que vendia as gravações (3 DVDs por 10 reais).

Não obstante ao programa da Tv Globo, que transmite o quadro, há ainda programas rivais de outras emissoras, como o Legendários, da Record, e na Bandeirantes, os adorados pelos adolescentes, Pânico na TV e CQC.

Tanto o Legendários como o CQC, programa de formato pronto comprado do exterior (o que não garante qualidade, vide BBB ), possuem, ou possuíam até um tempo atrás, quadros bem interessantes em um programa de verdadeiro humor.

Uma vez, atores contratados pela Record atravessavam a rua por dentro dos carros que paravam bem no meio da faixa de pedestres, e em outra, estacionavam o carro bem atrás de quem guardava o automóvel em vagas de deficientes no supermercado.

Tais atitudes geravam certos confrontos, é óbvio - mas causavam tanta risada quanto os quadros de humor ignorante, e ainda davam uma certa mensagem de civilidade.

O CQC, que possui no ótimo Marcelo Tas a liderança do palco, também já chegou a investigar falcatruas vergonhosas de prefeituras por aí, inclusive chegando a flagrar uma televisão enorme que foi paga pelo Estado na casa de uma funcionária, assim como funcionários fantasmas na folha de pagamentos de um prefeito estranhamente rico.

Tudo isso feito com...veja só, humor ! Tiradas ácidas faziam da reportagem investigativa algo tão delicioso de se ver tanto para o cidadão preocupado com o país como para o cidadão apenas com vontade de se divertir.

E bem, infelizmente, de um tempo pra cá, a qualidade do programa caiu - quadros assim perderam participação, e os com celebridades do show business, que são paradas no meio de eventos para responder perguntas constrangedoras (e sem graça), ganharam espaço.

Recentemente, na última visita da Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, um repórter do CQC entregou uma máscara de carnaval ao fim da coletiva, causando revolta geral e até uma suposta agressão.

Não sei bem qual a motivação do mesmo, mas bem, talvez tenha feito sentido para a secretária americana. Como um país continental e rico como o Brasil pode ter políticos imbecis? Oras, com uma imprensa idiota e bufona, é claro.

Qual a intenção em entregar uma máscara de carnaval a uma representante máxima de um país estrangeiro ? Mostrar que somos bobos felizes ? Que aqui tudo é festa ? Bem, e se for, o que ele esperava fazendo isso ?
Que os Estados Unidos da América, penalizados com a falta de ativismo político e consciência da população, invadisse o Brasil e nos desse cultura e cabeças para pensar ?

Certamente que não. O ridicularizado com a atitude foi o povo - pobre e sem palavras, em sua grande maioria - e o povo não reclama, não xinga, não derruba. Por que o repórter não ridicularizou Sarney ? Renan Calheiros ? Ou pra ser mais atual, Demóstenes Torres ? Por que não entregou um mapa do Maranhão, informando que aquele era, certamente, um país dentro do próprio Brasil, com suas próprias regras e um único dono, de cabelos e bigodes brancos, metido a coronel ?

É esse o papel do humor ? É esse o papel da imprensa ?

O humor é um termômetro da sociedade.

E em sua forma real, ele é ferino, voraz, mas sutil e inteligente ao ponto de tanto o trabalhador de obra civil ao doutorando em letras entender, dar risada e concordar da mesma forma sobre o que foi exposto.

Mesmo na Idade Média, com a Igreja queimando a torto e a direito quem respirasse diferente de Roma, havia quem fizesse troça dos Papas (veja bem - dos poderosos malditos, e não do povo sofrido), e nomes como Gil Vicente são estudados até hoje por quem tem interesse em nossa herança portuguesa.

E talvez, caro leitor, não seja nem preciso ir tão a fundo - observe a ditadura militar e os nomes que ali protestaram. Observe as letras dos cantores - Chico Buarque, Raul Seixas, Geraldo Vandré - e como elas traziam as vezes ironias e críticas tão refinadas, tão intrínsecas, e que botavam sorrisos na cara das pessoas e chegavam a ser mostradas em programas infantis, tal a inteligência de suas palavras.

"Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar...."


(Raul Seixas - Carimbador Maluco)



Tivemos ainda, nos cartunistas e cineastas, outros tantos exemplos de como se faz um humor de verdade.Glauco, Millôr...ah, tantos quantos mais ! Até o pessoal do Casseta e Planeta teve seus tempos de brilhantismo e defesa do que merece ser defendido.

O humor é a representação máxima do que é nossa sociedade, caro amigo. E quando você liga a tevê, ouve o rádio ou abre o jornal e começa a ver coisas estúpidas sendo motivo de risada, bem, fique triste.

Carlos Nascimento foi execrado por aí quando disse que "nós já fomos mais inteligentes". Se ele tivesse feito uma coisa retardada na televisão, do tipo pular como um macaco em cima do balcão do jornal em vez de dar notícias sérias e necessárias ao conhecimento do povo, viraria celebridade instantânea no YouTube e adorado em todas as redes sociais.

Mas ele ficou puto com o fato de uma garota ter virado mania nacional e chamado mais atenção do que qualquer caso de má administração pública por causa de um comercial mal feito de vendas de apartamento.

E bem, foi chamado de mau humorado pra baixo. Pobre Nascimento. Foi falar algo racional na televisão...

É compreensível porque as pessoas riam da Valéria naquele dia. Se enxergavam nela, se identificavam. Metrô lotado, povo suado, fala arrastada...feiura resultante de maus cuidados. Uau, estamos na televisão !

O povo ria ali, automaticamente, de si mesmo. Da própria desgraça, cuspida e filmada, como uma cena de grande emoção.

Não se fazem quadros de ironia para jovens bilionários que atropelam trabalhadores em bicicletas, senadores donos de estados, hospitais lotados de morte em seus corredores e violência gritante em nossas avenidas.

Comemoramos como idiotas, a cada fevereiro e feriado, citando Renato Russo - e a cada sábado e domingo de televisão humorística, citando a todos nós.

Ouvi falar de um quadro do pânico que estava fazendo sucesso - Um tal de Boris Casoy cover.

Assisti dois minutos de um cara fazendo sons com a boca e caretas.E só.

Não suficiente, o mesmo programa teve a GENIAL idéia de raspar o cabelo de uma garota. Aonde está a graça disso ? É sério que essa é a inteligência máxima da nossa cultura em massa ?

Não, amigos. Nossa sociedade está decaindo largamente, e o nosso humor é a maior prova disso.

Uma vez, em um emprego, tivemos a atenção chamada pois o dono da empresa passou perto do setor e viu pessoas rindo de algo. Disse que se estavam dando risada, era porque não estavam trabalhando.

"Quem trabalha fica tenso", disse ele.

Depois daquilo, sempre ríamos em voz baixa, e reprendíamos em tom irônico os novos membros da empresa com a frase "Trabalho sempre, risada nunca !". E quando o dono passava, era uma postura militar e rígida que tomávamos em nossa mesa, pra depois rir novamente.

Isso é humor - tirar sarro de quem merece ser tirado. E de forma inteligente, não estúpida.

Que venham novos tempos para todos nós, brasileiros. Pois há a crença - cada vez mais firme - de que há risos forçados para não haver choros sinceros.

Choro de quem já perdeu o sentido da pátria que um dia existiu em cada um de nós.


Um brinde as piadas, leitores.As do Congresso, as que fazem sobre nós.

O Brasil precisa de vocês.E não delas.




AD INFINITUM






1 comentários:

Oissac disse...

Tiro o meu chapéu meu caro irmão, para o teu post e me sinto mal por não ter coragem de bater de frente com toda essa corrupção e má influência que praticamente todos os veículos de comunicação tem vomitado em cisa de nós. espero que tuas palavras possam chegar a ouvidos mais sensatos e poderosos ao ponto de mudar algo neste país.