"Don't waste your time...
...or time will waste You."
Desde os tempos mais remotos do cristianismo, são comuns os casos de stigmatas - pessoas que desenvolvem em si marcas da crucificação de Jesus Cristo. Em seus corpos apareciam marcas nas mãos, pés, costelas, cabeça. Sangravam e doíam como verdadeiras feridas.
A ciência os estudou, os filósofos raciocinaram, os psicólogos flertaram com 200 teorias. Chegou-se ao senso comum de que os stigmas eram fruto de uma força da fé tão grande da pessoa que o subconsciente interpretava aquilo na qual a mesma acreditava como sendo realidade e produzia no próprio corpo as marcas.
Algo parecido com o efeito placebo - acredite que está sendo curado, e seu sistema imunológico trabalha tão bem como se estivesse sob ajuda de remédios.
Porém, o que se tem hoje em dia, são outros tipos de stigmatas. São pessoas que não mais revivem em suas vidas as marcas de sangue deste importante personagem da história, mas sim, suas intenções e lutas.
E não o fazem porque querem ser Jesus - mas porque acreditam, por vários motivos, que este é o caminho, esta é a verdade. Não desejam morrer pregadas em madeira nem serem julgadas em público. E nem precisam. Sabem que o certo é fazer o bem - ainda que em sacrifício do ego.
Não se consegue explicar porquê - e por um bom tempo não se conseguirá - mas algumas pessoas se sentem corroídas por dentro quando não estão agindo bem, e aparentemente entendem que uma vida que não seja totalmente direcionada para a melhora - íntima e pessoal, e da sociedade também - é uma vida perdida.
Embora o mundo contenha casos de brutalidade, futilidade, orgulho e guerras, é notável a quantidade de bons corações que se descobre por aí ao nadar mais fundo dentro de algumas histórias. Envolve-se em alguns lugares quaisquer, como escolas, praças públicas, teatros, e pimba, você encontra pessoas com seus erros, pecados, lamentações, mas também uma série de acertos e feitos pelos outros que dão uma esperança a mais na humanidade.
E ser, ainda que involuntariamente, um stigmata no mundo atual, não é tão mais fácil do que a dois mil anos atrás.
As pessoas não vão enxergar suas marcas de vida, suas dores, suas felicidades, seu valor e sua história quando olham pra sua cara. Não vão sentir isso com uma hora de conversa. E você pode ter salvado uma dúzia de pessoas em diversas situações na semana passada - isso não saiu nos jornais e se tivesse saído, muita gente poderia não dar a mínima.
Ser bom no século XXI é, antes de tudo, entender que reconhecimento e bondade não andam sempre juntos. Aprender a lidar com o ego é uma merda - e você vai entender que depois de um tempo isso não é mais uma opção, mas uma obrigação inadiável, como se seu passado te empurrasse contra uma parede e você não tivesse opção a não ser aprender a derrubá-la.
Não existe calma na era moderna. Não existe segunda chance. E o tempo todo, tentando ser um pouco melhores como pessoas, nos sentimos péssimos quando não conseguimos ter o tempo necessário - e a paz de espírito necessária - para fazer o que tínhamos de fazer.
Pode ser dar mais atenção pras pessoas que gostam de você, estudar pras provas, começar a academia ou simplesmente mostrar para aquela pessoa incrível que uau, você também é incrível ! Mas aí vem o tempo voando, todas as necessidades, etc etc, e antes mesmo que você pudesse ter um pedaço de felicidade entre os dedos, bang, bang ! Como um tiro, a situação se foi e você fica com a sensação (detestável) de que faltou aproveitar melhor algo.
Talvez, esse seja o fator mais difícil de tentar sempre ser o seu melhor por aqui. Pode passar SEMANAS se esforçando, suando a camisa, quebrando correntes a cada passo, mas nada disso garante que você vai ter bons momentos em quantidade razoável - nem que as oportunidades que aparecerem irão esperar cada segundo a sua melhor decisão.
Portanto, ser o melhor não é apenas agir bem e quebrando limites humanos nesse sentido. É entender que não, nem sempre vai ter um baú cheio de ouro no fim do arco íris.
E aí, você entende pelo menos um pequeno pedaço de como aquele cara se sentiu a dois mil anos quando, segundo o livro sagrado cristão, foi informado no jardim das oliveiras que após 33 anos se dedicando a espalhar mensagens de paz e amor, iria ser julgado e condenado a pior morte conhecida na época por incomodar quem não gostava dele.
E o cara foi - e cumpriu todo o sofrimento mais conhecido do Ocidente. Apesar disso, o tempo todo ele não parecia duvidar da importância do que estava fazendo. Fez - e fez por todas as pessoas.Não á toa, é falado até hoje.Assim como Madre Tereza de Calcutá, Gandhi, Luther King e tantos outros que você pode ter tido a honra de ter ouvido falar.
Quando você começa a sentir esse ponto - começa, porque sabe que pra chegar no nível desses caras ainda vai precisar aprender MUITO sobre a existência - é automática aquela sensação estranha e condutora do "faça o bem, não reclame e entenda que há algo acima de tudo isso".
Portanto, ser um stigmata hoje em dia não é carregar marcas de sangue ou delirar de fé perante câmeras. É compartilhar da missão de pessoas como as citadas neste post. É ser uma marca da fé nas pessoas, no que elas tem de melhor para dar e oferecer. E sim, isso é DIFÍCIL. Já passou pela sensação de que se você não fizer, ninguém vai fazer ? De que você está liderando a coisa ? De que, porra, não tem pra quem correr, pedir conselho, fugir pra debaixo da asa quando a coisa apertar ?
Pois é.
É quando você está vivendo um grande momento da sua e da nossa história. O desconhecido dá medo. Sentir que puxa, você está no comando das coisas, dá uma carga de responsabilidade maldita e que faz até a felicidade ir passear longe da nossa vida. É quando você percebe que passa muitas horas trabalhando, estudando, e sendo bom com os outros, e poucas horas curtindo. E percebe que nos poucos momentos que têm pra curtir, você fica tão afobado querendo que as coisas deem certo, que você se sinta realizado, que você ainda tenha um sonho médio pra manter enquanto salva o mundo, que...porra, não consegue deixar as coisas fluírem e tudo se acaba antes de florir na próxima primavera.
Não importa se a oportunidade de se sentir melhor ou arrumar uma nova parceria seja um restaurante indiano, um teatro na paulista ou um café no Starbucks. Você sabe que é difícil guiar toda aquela carga de conhecimento e vontade de mudar o mundo para uma conversa suave com quem te interessa. E quase sempre se sente desconcertado com a sensação de que isso ferrou com tudo. Você tinha tanto pra mostrar que passou as três horas tentando consertar o que não estava quebrado - não há como mostrar tudo que você é em um encontro.Em dois.Em vinte.
Nem no seu trabalho.Pro seu chefe. Em semanas de trabalho. Ou pra sua família. Em anos de convivência.
Logo, o segredo é esse : faça a sua parte. E bem....seja paciente. Há um Deus sobre nossas cabeças, não há ? Que Ele faça a parte dele quando der.
P.S : Hoje vi uma peça de teatro no qual o cara questiona Jesus : "Porque se sacrifica assim ? Você sabe para o que serviu este sacrifício ? Sabia que transformam seu símbolo em ouro para ser usado em madames ricas, usaram você como motivo para inúmeras guerras, usam seu nome para ganhar dinheiro ?".
E aí o ator deixa aquele tom de questionamento no ar, sem resposta, como um desafio íntimo a todos nós.
Engraçado é não saber como responder em palavras.Mas sentir a resposta aqui dentro. Saber que sim, você faria o mesmo.
AD INFINITUM.
2 comentários:
Acho que cheguei na na fase de enfrentar o meu próprio ego, de combater o "Bom combate", enfrentar a mim mesmo e decidir mais uma vez o que é mais importante, por mais que o meu orgulha não queira. Todos nós vamos passar por isso, e graças a Ele, a grande maioria vai vencer (Assim espero!).
Ótimo post cara como sempre !!!
Senti saudades deles !!!
Um Forte abraço e Fique com Ele...
Não há calmaria, realmente são caminhos de dúvidas constantes e ódio em meio a tanta bondade.
Nossa cruz pode não ser do tamanho da que muitas pessoas boas e com um destino grandioso carregaram, mas isso não quer dizer que seja fácil de carregar ou simples de entender. Entendimento é muito pouco quando a essência humana é colocada na mesa - como se fossemos cirurgiões analisando o paciente que aparentemente não tem mais cura.
Jesus foi sábio ao mostrar que não é fácil... que somos imperfeitos e temos que aprender a lidar com isso (com nossas imperfeições e a do resto do mundo) mesmo que custe o sofrimento ou surtam apenas pequenos atos de bondade, egoístas (paz interior/consciência limpa) ou impulsivos, que seja.
Aprender a lidar com isso ou simplesmente lidar? Questionar o inquestionável ou curar as feridas? Sofrer com elas, quem sabe.
A ganância humana pode ser grandiosa, mas o arrependimento também é, o reconhecimento, a aversão ao ódio e à injustiça.
Seja paciente consigo mesmo e, sim, faça sua parte. Talvez as melhores decisões estejam nas entrelinhas.
ps.: eu gostava muito do filme "Stigmata", realmente faz muito sentido o começo do post.
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