"(....)
Können Herzen sprechen ?
Kann man Herzen quälen,
Kann man Herzen stehlen"
"(...)
Podem os corações falar ?
Pode-se torturar corações,
Pode-se roubar corações"
Links 2 3 4 - Rammstein
Você, que não liga a mínima para a corrupção ou para seus efeitos nefastos na sociedade : que você morra da pior forma possível. Se não gostou, já pare de ler por aqui.
"O trem chega atrasado na estação.São 08h25. Não conseguia mexer um único músculo dentro do vagão.Haviam centenas de pessoas na plataforma aguardando como soldados para a guerra o trem estacionar. E haviam outras centenas de pessoas como ele dentro do trem esperando o trem parar e desembarcar.
O resultado era sempre o mesmo. As portas se abriram, uma brecha foi aberta entre a multidão para a saída. Após seis ou sete segundos de espera, as pessoas de fora tentavam forçar a entrada. Choque entre cidadãos. Empurra-empurra.
Ele olha para a frente, olhos nos olhos de um homem de meia idade e pardo. O homem abaixa a cabeça. Ele o empurra com o braço esquerdo para o lado e sai. Sente o ar frio da manhã encher os pulmões e pára em um ponto longe do fluxo.
Olha para a porta de um dos vagões. Uma senhora, idosa de traços orientais, tenta sair, e um homem alto e moreno, forte, com roupas de construção civil, tenta entrar a qualquer custo, empurrando a senhora. Ela acaba espremida pra fora e sai tremendo assustada. Os óculos quebraram e ela não consegue enxergar. O homem agora grita de dentro do vagão comemorando : 'Consegui gente, consegui entrar, sempre cabe mais um'.
Deveria ter ido lá, ajudado a senhora. Ou talvez puxado aquele porco imundo pra fora e ter lhe esmurrado até que seu rosto se desfigurasse sob sua força. Que seus gritos fossem de dor e arrependimento.
Mas ficou sem reação. Não ajudou ou puniu ninguém. A senhora encostou na escada rolante, tateando, e subiu chorando.
Somos todos animais.Animais. O inferno é aqui e eu não sei o que fazer."
"São 18h50. Após um dia de trabalho, viu policiais em escolta pela Paulista inteira. Ouvira alguém comentar na rua sobre a possível nova onde de ataques do crime organizado, e infelizmente confirmara na internet que cinco policiais foram assassinados em cinco ações diferentes nos últimos seis dias.
Após pegar o metrô da linha verde, caminhou até a integração com a linha amarela. Quando estava chegando na plataforma, notou algo diferente. Pessoas se acumulando por toda a parte na plataforma.
Um trem havia entrado em pane, algumas pessoas comentavam. Mas o sistema de som nada informava.
Não informam nunca, que se fodam todos os passageiros, não é mesmo ?!
Vestia uma jaqueta do Palmeiras. Encostou no corrimão longe do corredor e ficou observando a via.
É sexta-feira, está tudo bem. Voltarei para casa daqui alguns minutos, irei ouvir música e conversar com amigos. Tudo bem. Só um problema técnico. Acontece.
Um garoto interrompeu seus pensamentos.
Vamos ser campeões, finalmente, hein cara ?! Mal posso esperar !
Não sabia de onde ele havia saído, mas sempre gostava de conversar sobre futebol, e o estranho era palmeirense. Depois de dez minutos conversando, descobriu que simpatizava com ele. Era uma boa pessoa, notavelmente.
O celular do garoto estranho e palmeirense tocou, e ele disse que tinha que ir. Se despediu e foi. Foi por alguns metros, pois ao acompanhá-lo com o olhar, ainda viu ele cair no chão quando um grupo de seis ou sete pessoas atravessou correndo o corredor para a escada rolante.
Ah, que merda, garoto. Eu sinto muito pela educação daqueles imbecis.
E então sentiu que seu humor novamente estava ficando pesado.
O metrô voltou a circular, com velocidade reduzida. Conseguiu entrar no sexto ou sétimo a passar. As pessoas estavam irritadas. Era visível em suas caras.
Dizem que sexta é o dia mais feliz da semana. Gostaria que alguém gritasse isso agora bem no meio desse lugar. Eu duvido que alguém seja macho assim.
Quando o metrô chegou na estação Pinheiros, a plataforma estava vazia no começo. Seguiu a multidão e subiu até o próximo andar, até que então...aconteceu.
O andar estava lotado. Completamente lotado. As pessoas passaram a cair uma em cima das outras ao fim da escada rolante. Pulou o último degrau e achou um espaço vago mais a frente. Olhou mais a frente e viu uma roda de pessoas em torno de alguém deitado.
Uma mulher estava deitada desacordada. Alguém havia feito um encosto para a cabeça dela com uma blusa, e a amiga desesperada gritava por socorro médico.
Olhou para a esquerda. Uma outra mulher, de cabelos desgrenhados, abriu uma boca com poucos dentes para gritar : "AI GENTE, NÃO ME EMPURRA ASSIM QUE GOSTO, (risos da mulher, e de quase mais ninguém), AI COMO EU TÔ BANDIDA. GOSTO DO METRÔ POR ISSO, UM MONTE DE NEGO ATRÁS DE MIM, PODE VIR QUE AQUI TEM PRA TODO MUNDO".
Então, pela terceira vez no mesmo dia, sentiu a cólera se infiltrar nas entranhas.
Pessoas tentando voltar para suas famílias, outras passando mal, este lugar está o inferno, e o retrato do brasileiro eleitor é você, sua filha da puta piadista de merda. Você é que deveria estar lá deitada morrendo.
Deu passagem junto com outras pessoas á um segurança da estação que foi em direção á mulher deitada, então conseguiu, não sem antes ser comprensado, subir na escada rolante.
Seu olhar já estava se perdendo novamente nos pensamentos quando ouviu um barulho.
Virou para o lado e ainda viu um homem alto desferir um soco no homem, mais baixo, que estava no degrau atrás dele na escada rolante paralela.
Não me empurra, não me empurra, eu te arrebento
Mas eu não fiz nada ! Que isso cara ?
Você me empurrou ! Tentou me derrubar !
Não conseguia acreditar naquilo. Os caras...estavam saindo na porrada. Deus, isso é uma estação de trem, uma maldita estação de trem, não uma praça de guerra, as pessoas deveriam ir e vir, mas estão se degladiando, caindo no chão e se matando por nada.
O homem mais alto apertou o passo antes de passar por ele no outro andar. Sua voz saiu embargada de um choro repreendido quando disse : "Pô cara, tá todo mundo sofrendo aqui hoje, porque você precisa empurrar ? Não precisava disso cara. Mas que merda cara."
O homem mais baixo, com a cara vermelha do soco, andou até um canto isolado e então começou a chorar. E ele ficou parado olhando a cena surreal.
E pela primeira vez no dia, sentiu vontade de chorar também.
Isso não é real. Isso não é justo. Essas pessoas eram boas. Eram dois homens bons. Estão tão perdidos e assustados quanto todos os outros aqui. Seriam amigos em outra ocasião. E aqui, são inimigos. Isso não pode acontecer. Não pode. NÃO PODE, CARALHO ! ISSO ESTÁ ERRADO !
Agora a raiva estava insuportável. Se lembrou da senhora machucada, do palmeirense caído, da mulher caída, dos homens chorando. Um rapaz bem vestido passou de cabeça baixa ao seu lado murmurando que aquilo não era civilização. Olhou para o movimento incessante de outros passageiros, e via imagens graves pintadas em todos as suas expressões.
Não haviam sorrisos. Apenas raiva, cansaço, e dor. Dor. Dor. Dor daquela situação, existência de quem utiliza o transporte público.
E então, o garoto, que saiu feliz de casa como muitas outras pessoas naquele dia, entrou em meio ao movimento geral e se tornou mais um rosto pesaroso em meio a tantos outros.
Um número a mais no país. Quem se importa ?"
O relato acima, infelizmente, é verdadeiro, e ocorreu hoje, em São Paulo.
Depois, pensando melhor, percebi que não sentia mais raiva da mulher desdentada, ou do cara que machucou a senhora. São ignorantes, sem dúvida, mas não é culpa deles. Vi ali o retrato total da nossa sociedade.
O pobre total, que vê graça na desgraça. O brasileiro de classe média, que tem consciência da tragédia social, e lamenta por isso, mas não faz nada. E a elite, que andava com seus carros pela marginal congestionada, provavelmente se estressando tanto quanto nós.
Fiquei realmente tocado pelo que vi hoje, mais do que já me toco todos os dias, pois não é só hoje que as estações do metrô/cptm são um completo caos. Enxerguei minha avó sendo machucada ali, ou meus pais com dificuldades de locomoção tendo que se virar no meio da multidão enraivecida.
Vi pessoas boas sendo machucadas, e imaginei como me sentiria se chegasse em casa e descobrisse que minha irmã desmaiou no metrô porque sufocou. Ou que meu tio arrebentou um cara porque perdeu a cabeça e se arrependeu disso depois, chorando que nem criança. Ou que meu vizinho chegou em casa puto porque teve que voltar nesta total falta de ordem.
Mais do que nunca, eu tenho andado cético em relação a políticos. Mas não desisto de acompanhar. No fundo, minha raiva só aumenta. Ás vezes, penso que eu não me arrependeria de matar um ser humano como Sarney, Serra, Maluf, Demóstenes Torres, Collor, Renan Calheiros, Jader Barbalho...essa idéia não me assusta. Me dá um prazer terrível de se sentir.
Minha família tem reclamado que não consegue mais viver na Grande São Paulo. Amigos relatam dificuldades também. Vejo vantagens descaradas a alguns, desvios de toda a ordem no poder público, e não vejo nada sendo feito.
Posso dizer, sem querer ser eleito mártir, que enquanto muitas pessoas se deprimem por problemas de relacionamento, auto estima ou perda de parentes, eu me deprimo pela sociedade que somos. Fazer parte desta geração me mata todos os dias.
Tenho vergonha de mim, de você, de nós. Tenho vergonha do que estamos permitindo que façam conosco e com quem amamos. Somos um erro da natureza. Um elo fraco. Uma linha torta na linhagem de evolução constante.
Nossos antepassados lutaram nas guerras mundiais, construíram o Brasil moderno, combateram a ditadura, instituíram valores. Nós estamos destruindo tudo isso. Estamos cuspindo no sangue derramado por esta terra, por nossa liberdade, nossa honra, nosso futuro.
Da falta de educação alheia ao hospital lotado. Tudo vem do descaso daqueles que são eleitos para viver acima de nós.
Nós somos a fonte de nossa desgraça. E no fim, eu não consigo nos odiar tanto assim. Eu deveria. Porque isso é medíocre. Medíocre, completamente medíocre. É ser menos que humano. Judeus lutavam por sobrevivência em campos de concentração. Nós vamos pro facebook. Eu vou pro facebook.
Mas não se exige de quem não pode dar. Exige-se de quem tem a obrigação de nos ajudar, salvar, dar condições. E este alguém é o governo. Que não pega metrô lotado, não usa hospital público, não estuda em escola pública, não pega fila em todos os lugares, não sai na rua sem segurança.
Somos inocentes. Inocentes calados, destinados a morrer pensando em dias melhores, e tendo uma morte diária. O Silêncio dos Inocentes. E a glória da maldade. Esses são os nossos tempos.
Encerro o post com a foto abaixo. Não tenho mais nada a dizer.
AD INFINITUM
1 comentários:
A ignorância politica está acabando com a sociedade que um dia foi sadia.
com tudo a culpa é toda nossa, pois nós elegemos e escolhemos nossos representantes que estão se banhando nos mais caros vinhos nos mais diversos lugares.
É realmente lamentável o cotidiano do trabalhador ! =-(
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