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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Firmamento


"A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão"

Mário Quintana


Havia uma lenda na Grécia Antiga para cada constelação no céu.

Capricórnio, o animal que alimentou Zeus. Centaurus, o guerreiro implacável. Andrômeda, a princesa virtuosa. Hércules, o Herói.

As estrelas, diziam os gregos, nos lembravam sempre de que havia algo maior do que nós - deuses, lendas, imortais.

Um homem poderia reclamar de como a vida lhe parecia sem sentido ao olhar para os próprios pés, mas se sentiria vivo novamente ao notar o quão pequeno e iniciante era, diante da história que o firmamento lhe contava todas as noites.

Os deuses eram bons, porque davam aos homens uma visão que seria passada de pai pra filho, de filho pra neto, de geração para geração.

Todo aquele que pudesse ver, e enxergar, e contar, diria sobre as guerras que brilhavam, os soldados que piscavam, os épicos de tantos pontos brilhantes e infinitos.

O céu profundo era o presente mais belo dos deuses aos homens - e a eles mesmos, tal qual o orgulho lhes era próprio.

Os tempos passaram.

Mas as estrelas ainda estão lá.

E nossos deuses também.

Todos os dias, quando fechar os olhos, seja antes de dormir, seja antes de levantar, você enxerga sua constelação.

Navega pelos grandes momentos de sua história. Cinco grandes estrelas formam seus primeiros passos, vinte e três formam seu primeiro beijo.

O céu é imenso, vasto. Há tantas estrelas, mas tanto espaço a ocupar. Com um pouco de esforço, você enxerga até aquilo que não está mais lá : pessoas que se foram.

Viraram lendas no seu céu - e lendas não morrem.

Mas quando fecha os olhos e tua alma enxerga, elas estão lá. Todos os rostos, todos os sorrisos, todas as lembranças. Marcadas no cosmos da tua cartografia.

E você também vê heróis - os seus heróis.Talvez teu pai. Teu avô. Tua professora. Teu amigo.

Talvez não brandam espadas, talvez as estrelas formem um abraço. Ou aquele gol fantástico naquela partida.

Você enxerga todos eles.

Vasto, vasto mundo. Mais vasto é o meu coração.

E quão vasto é o teu universo ?

Quais constelações brilharão perante seus olhos, mensageiro, quando fechar os olhos daqui a um mês ? um ano ? dez anos ?

Quem é você, daonde veio, aonde está, e para onde vai ?

E se eu descobrir seu mundo, e navegar por teus mares, e desbravar tuas terras, que céu terei sobre minha cabeça ?

Serei um mero poeta das maravilhas que vi ? Ou um navegador perdido na escuridão de uma dimensão que nada me diz, além de uma vida vazia ?

Quantas estrelas tem teu céu ? Qual é a tua mitologia ?

Você gosta do que enxerga antes de dormir ?



Tão pequenos. E tão infinitos.

Não importa se foi Deus ou o Big Bang.

Somos a maior contradição que já existiu.






AD INFINITUM






3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
menina disse...

Lindo texto. Mais que lindo, salvador. Era realmente o que eu precisava ouvir/ler. Não pude conter as lágrimas. Até mesmo ´palavras bonitas machucam, quando profundas.
Obrigada.

Oissac disse...

Irmãozão, confesso que não conhecia este teu lado tão profundo enigmático de escrever.
Este é sem dúvida um dos textos mais incríveis que já tive a oportunidade de ler. Parabéns!!!

=-)