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sábado, 6 de outubro de 2012

Pós-Guerra



"Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta"

Carl Jung


Quando 2011 terminou, os fogos estouravam por todos os céus, mas em algum ponto do planeta, entre todas as juras e beijos trocados, os abraços dados e os pecados consumados, alguém estava lá, encarando as luzes da cidade perdida na noite.


A carreira profissional ascendente poderia ter sido bruscamente interrompida, a vida pessoal tinha sofrido uma hecatombe atômica e talvez esse alguém estava totalmente descrente em si mesmo.

Uma crise de meia idade aos 20 e poucos anos. Mackaulay Culkin não faria melhor. Vício da geração.

Felizmente pra alguma parte da humanidade que desconheço, vaso ruim não quebra.

Promete, com raiva no olhar, que irá reconstruir a carreira a qualquer custo, e irá dar a volta por cima.

Nada mais importava senão a vitória.

E como todo bom cavalo de guerra, você vai pra cima, pulmões inflados, coração pulsando, músculos ritmados na batida da batalha.

E cumpre a missão. Conquista um (outro) emprego, corre quando se espera que andasse rápido, voa quando se esperava que corresse, vai além das expectativas e consegue uma promoção, restabelece o orgulho profissional, lembra do rosto de seus heróis, e sabe lá no fundo que eles adorariam ver você disputando do jeito que disputou, vencendo do jeito que venceu.

Mas tudo tem seu preço. A guerra tem um preço. Terrível, há quem sobreviva pra confirmar.

Estupidamente, a vida pessoal pode ter sido sonegada. A forma física piorou como era de esperar de quem entra em uma luta que se arrasta por semanas e mais semanas, e não de quem vai pra academia malhar com a Barbie-Peitos-Grandes-Cérebro-Opaco e o Ken-Braços-Longos-Mente-Fétida.

Se empenhou em campanha por aí, vivendo por aquilo, respirando aquilo, olhando no espelho o mesmo semblante determinado todo dia quando acorda, indo dormir com o desejo estampado no teto do quarto, anotando cada detalhe mentalmente, planejando e executando com precisão atômica todos os passos para o final esperado, investindo toda a sua energia vital em campo aberto contra o inimigo.

Vitória, respira, batida de coração, vitória, respira, batida de coração, vitória.

E quando volta pra "casa", para aquilo que supostamente seria o porto seguro, descobre que o tempo não para pra ninguém, nem pra quem estava vivendo pra algo, e não por obrigação biológica.

Seu corpo vira um testamento. Marcas por todos os lados, a forma disforme, o rosto de soldado urbano.

Não é o tipo que você vê no anúncio de perfume.

E a vida pessoal, bem, talvez uma nova Berlim 1945. Nada mais de paixões de verão, investimentos familiares, momentos bonitos no álbum debaixo da cama.

Terras devastadas pelo esforço incomum em busca de algo.

War. War never changes.

Mudam os combatentes, os territórios, os livros de história, a visão eterna em cada um. Mas ela ainda é a mesma.

E a grande questão que se forma, caro leitor, é : a vida inteira você lutou. Cresceu assim, os acontecimentos te formaram assim. Máquina de resultados, atleta de ponta nas pistas da rotina, o favorito pras apostas no final de semana, 10 pra 1 nas casas de apostas. Destruidor de tabus, a pessoa que admira recordes, mas vai lá e os quebra.

Você é feito pra matar, pra ganhar, pra cumprir o esperado e voltar com um rosto suado sob o sol de fim de tarde pra casa.

"Hoje é um bom dia pra viver e lutar, senhor". Essa é sua frase. Esse é seu destino.

A guerra é parte de você, e você é parte dela.

Mas agora não é hora de lutar. É hora de reconstruir. O seu interior. O seu mundo. Curar as cicatrizes, levantar novas cidades, novas economias, aperfeiçoar a forma de viver.

Evolução. O que ficou, foi o melhor de você. E o que se foi, era pra ter ido.

Mas você não sabe fazer isso. Paz ? Estabilidade ? Cuidar de si mesmo ? Tão somente de mim ?

Descoberta inesperada, essa.

O mundo lá fora é menor que o mundo aqui dentro. E a resposta final está em você.

Sentido, soldado.

Pronto para desbravar um novo mundo ?

O seu país precisa de você.

Apontar.Preparar.

Fogo !





AD INFINITUM














1 comentários:

Oissac disse...

Viva a guerra cotidiana.