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domingo, 18 de novembro de 2012

Apocalipse Now





Peste Negra. Duas Guerras Mundiais. Duzentas guerras civis. Apartheid. Machismo. Cólera. Varíola. Fome. Miséria. Destruição. Genocídio. Racismo. Armas biológicas. Guerra Fria. Inflação e Desemprego.

Centenas de milhares de gerações passaram pela Terra, e superaram tudo isso. Inventaram da cerâmica ao avião supersônico. Do chá de erva cidreira ao coquetel para AIDS.

E você é um idiota. Eu sou um idiota. Nós somos idiotas. Os maiores idiotas que já passaram por aqui.

Um erro, uma vírgula errada no texto da história do mundo.

Ah Deus, que texto pesado, não ? Eu devo ser amargo. Devo ser um filho da p***. Ou pior : eu devo ter VALORES.

Foi isso que eu ouvi ontem a noite : "Nossa, o Diego tem valores", no pior tom debochado possível.

Como alguém que diz : "Nossa, ele tem três pernas e se acha diferente por isso".

Nós não sabemos a diferença entre as linhas. Sexo é bom. Bebida é bom. Correr pelas ruas da cidade é bom. Fazer algo fora do normal, as vezes, é bom.

Mas tudo tem limite. E aparentemente, não há qualquer preocupação em respeitá-los.

Você pode fumar, transar sem compromisso, beber, falar uns palavrões de vez em quando, surtar de stress, dar uns socos na parede.

Não tem problema, cara.

Mas entenda que isso deveria ser parte do que vive em torno de você. Não do que você vive em torno.

A filosofia da nossa geração é :

 EU SOU FODA, EU SOU JOVEM, EU APROVEITO AS OPORTUNIDADES QUE A VIDA ME DÁ.

Não, você não é jovem.

Você está sendo um bosta. Um pedaço grande, que fede por dentro e infelizmente sabe falar.

Confundimos liberdade com imbecilidade. Amor com promiscuidade. Felicidade com histeria. Leveza com futilidade.Violência com masculinidade. Egoísmo com feminilidade. Amizade com facebook.

Não, esse não é mais um texto de repreensão moral financiado por alguma igreja.

Não é Arnaldo Jabor, Paulo Coelho, Carl Saagan, Judas Iscariotes.

Somos levianos, pobres de história, pobres de feitos, pobres de expressão. Somos a geração mais rica e desenvolvida, com a maior idade estimada de vida média, e usamos isso para nos deixar como uma falha genética na escala de evolução.

Aonde estão os jovens libertários e boêmios quando a guerra civil explode nas noites paulistanas ? Aonde estão vocês, que dançam funk ou ouvem rock, não importa que merda toque em suas cabeças, quando as coisas ficam ruins e alguém precisa de HOMENS (leia-se homens e mulheres) de verdade por aí ? Aonde está a defesa da sua liberdade ?

Somos uma farsa. Um desperdício. A vida perdida de Jack. Temos lampejos de genialidade em alguns de nós - alguém que denuncia as condições de uma escola precária, outro que ganha concursos culturais, outros que ajudam ONGs, outros que dedicam parte de sua vida ao próximo - mas quantos são esses, em um total de milhões ?

Os de bom senso se tornaram exceção. Isso é sintomático do que nos tornamos.

Talvez esse texto não mude nada em ninguém. Talvez alguém leia isso e faça troça. Ou não leia. Faça cara feia para o primeiro parágrafo e saia para assistir televisão.

Mas eu ainda quero ser uma voz de resistência. Tanta gente diz que adoraria um apocalipse zumbi, ou um apocalipse maia.

Fantasiam sobre heroísmos, cidades destruídas, atos hollywoodianos.

Não percebem que embora os prédios continuem em pé, cada vez mais famílias estão indo pro saco e cada vez menos temos lideranças e pessoas que fazem a diferença real na sociedade se formando por aí.

O Apocalipse já está acontecendo. E ele é silencioso, doloroso, só visível, como uma caixa de pandora, aos que tiveram algum valor restante dentro de si para defender.

Não esperem juízo final, bestas saindo do mar, anjos tocando trompas.

A cada erro nosso, estamos criando e recriando mais uma vez o nosso fim.

Pois depois de nós haverão outros, e mais outros, e mais outros.

Com sorte, e o que não é difícil, serão melhores do que nós.

O mundo acaba pra quem morre. E nós estamos morrendo por suicídio assistido. Eutanásia por incompetência em compreender a complexidade da vida.

Um texto mísero, como nós. Cheio de raiva, e talvez mal argumentado. Admito, sou humilde - ás vezes.

Peço desculpas se você, leitor, não se encaixa no descrito. Sei que várias pessoas que acessam o blog merecem muito mais do que temos oferecido. Muito mais do que o que escrevi aqui.


Em frente, amigos.

Nós ainda temos alguns anos pra mudar o destino que estamos escrevendo todos juntos. Uma história melhor e mais bonita - senão por nós, por aqueles que permitiram estarmos aqui.

Menos instagram e mais culhões.

Agora.







"This is the end.
Hold you breath and count to ten,
Feel the Earth move, and then:
Hear my heart burst again"



AD INFINITUMN
















3 comentários:

Carol disse...

Posso ser suspeita para dizer algo, mas seria inaceitável que não comentasse uma mísera palavra que seja após a leitura do que de melhor já li por aqui.
Você me surpreende a cada nova composição. Me parece claro que você é perfeitamente capaz de alcançar cargos como o cronista de uma grande revista (imagine escrever algo com esse elevado grau de avanço mental numa Veja?). Não falo brincando. Falo acreditando.
Sempre te admirei, e o faço ainda mais depois dessas palavras tuas, que, como já disse, de tão fortes chegaram a doer, e no que há de mais fundo nessa imensidão da alma.
Absolutamente genial. E nada menos que isso.

putresco disse...

Bla bla bla, foda-se.

Você é o cara com o maior pênis cerebral deste país e deve estuprar o gado conhecido como população de maneira ainda mais abrupta e desgraçada do que você faz. Violente a todos com pensamentos agudos e afiados como notas de guitarra, como navalhas.

Do seu caro raro leitor número um.

Cristoffer disse...

Me senti estuprado pelo seu Pênis cerebral rs. Brincadeiras a parte, você está de parabéns pelas suas críticas inteligentes, isso até me motiva a rever alguns conceitos e a observar alguns fatos de um outro ponto de vista. Mas referente ao pensamento do "Eu sou foda, sou jovem", percebo que hoje existe um buraco na educação dos pais para com os filhos também, pois chega em um determinado momento na vida desses jovens que eles começam a ver as coisas com uma nova perspectiva, e com a liberdade de expressão e a quantidade de informação que existe hoje, o jovem tem dificuldades em digerir tudo isso, principalmente porque muita coisa entra em conflito com a cultura passada por nossos pais. Vejo que hoje também esses jovens estão solitários e carentes, buscando a todo custo uma pessoa para compartilhar sua vida, pois acreditam que não são capazes de suportar toda essa carga sozinhos (e realmente é compreensível tal pensamento nos dias de hoje). O que precisamos nos dias de hoje é alguém com firmeza de pensamento que consiga auxiliar esses jovens para que eles possam deixar a fase infantil para a fase adulta com uma certeza de qual caminho desejam seguir (seja ele bom ou ruim). E infelizmente as Igrejas e os centros de apoio não estão conseguindo cumprir essa tarefa, e mesmo entre eles, um não está nem um pouco interessado nos problemas do outro, então não conseguem se ajudar de forma adequada! Aí sobram as drogas, o álcool, um casamento infeliz e outras coisas mais!