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domingo, 26 de maio de 2013

Do the evolution




Uma vez, quando eu somava cinco anos, estava jogando futebol na quadra da minha escola com outros garotos, muitos deles maiores.

Quando se tem cinco anos de idade, absolutamente TUDO parece gigante. E eu estava lá, com a maior vontade do mundo de entrar e fazer um gol, mas ao mesmo tempo me borrando de medo de me machucar. Meus pais não estavam ali, eu poderia cair, poderia doer, poderia ralar, eu poderia ter que usar MERTHIOLATE ! 

(Quem foi criança nos anos 90 sabe que ir pra enfermaria passar merthiolate era quase como ir pro corredor da morte - em nossas cabeças, é claro.)

Mas, por uma teimosia que se tornaria uma característica minha (eu não ligo pra dificuldade, eu ligo pra minha confiança, cacete !), eu entrei lá e corri atrás da bola junto com outros vinte e tanto pirralhos das mais variadas idades e alturas.

Foi aí que o time do colete amarelo teve uma falta a favor, e eu fui pra barreira. O cara que bateu a falta, bem...minhas memórias de criança dizem que ele tinha uns oito metros, mas é bem verdade que ele deveria ter um metro e pouco. Ele bateu forte, e eu me joguei na frente da bola.

E então, em uma das primeiras vezes (nessa) vida, eu senti o que chamamos de dor.

A bola acertou em cheio meu estômago. Caí no chão sem ar, e eu nem conseguia chorar, nem respirar, nem gritar, nem mesmo dizer "BOBÃO, ZÉ RUELA ! VOU TE PEGAR NA SAÍDA !".

Ali, pra mim, naquela hora e capacidade de compreensão, a dor era lancinante e injustificável. Fiquei no chão esperando alguém vir me acudir, me levar pra UTI, contar minha história na televisão, mas ninguém veio.

O professor de educação física chegou bem perto, olhou, e disse :

- LEVANTA, MOLEQUE ! Isso aí não foi nada !

Levantei a cabeça e vi todos os outros garotos continuarem jogando. 

Que injustiça ! Eu ali, sentindo a pior dor da minha vida até então, quase morrendo, e ninguém dava a mínima ! E o professor ainda mandou eu levantar, eu iria contar tudo pra minha mãe, ah, eu ia !

Fiquei mais alguns minutos ali, deitado no chão, como se o mundo é que estivesse totalmente errado por não ter se tocado disso, e qualquer hora todos iriam parar e vir me ver.

Então o sol começou a esquentar muito, e os garotos não paravam mesmo de jogar. Nem o professor de apitar e me ignorar. Então respirei fundo e vi que minha barriga não doía mais. Só o meu orgulho e senso de justiça que estavam completamente detonados.

Levantei, peguei meu avental, olhei pra garotada e corri atrás novamente da bola. E foi assim que aprendi a me divertir demais jogando bola. Que se explodam as boladas e caneladas ! A disputa era legal demais pra me reter por causa disso.

E aí gente cresce, e aí, já não é mais só bolada na quadra de futebol.

Você começa a levar pancada de todas as direções e formas possíveis. Algumas vezes, você nem espera. Dizem que quem a gente mais gosta é quem tem o maior poder de nos ferir. É verdade. E não para por aí.

Aprende que mesmo que você esteja junto de alguém que gosta e que gosta de você, é hoje, e só hoje. Que amanhã pode ser diferente, que palavras duras podem ser disparadas, mas que isso não significa que não valeu a pena. Apenas que em alguns momentos ainda somos muito, mas muito mesquinhos mesmo. Aliás, o ser humano é o único animal da natureza que consegue ser tão incrível e tão estúpido ao mesmo tempo. Freud NÃO explica.

Aprende que certas vezes, pessoas de dentro de sua própria família podem falar umas com as outras de formas que não falariam nem mesmo com desconhecidos. Oras, mas família não é a coisa mais importante pra todos nós ? E aí você também saca que pessoas não são muito lógicas. 

E saca, ainda, que você deve encontrar com você mesmo. Que depois de um tempo tentando se encaixar por aí, você não encaixa em lugar algum, porque cada pessoa é única e você deve fazer sua própria história. Que a definição de certo e errado muda a cada estação, e que Deus não mora só e tão somente em igrejas e templos, mas dentro de você. E que você começa a evoluir e se tornar um pedaço grandioso do universo quando entra em contato direto com Ele. Porquê aí tu assume do que é feito e do que é seu destino final : á imagem Dele.

Aprende, sem cerimônias e depois de muita, mas muita luta e sangue derramado, que o mundo não é berçário, e que você deve investir na sua auto estima, deve conhecer a ti mesmo, porquê quem domina, ama e pertence a si mesmo, não teme nada, não estressa com nada, sente tesão por cada segundo existido e é um conquistador voraz do destino. Um escritor irrefreável do melhor de todos os contos que já criaram ! O SEU CONTO !

E aí você, finalmente, aprende que as pessoas mais felizes não são as que tomam menos porradas da vida, mas as que lidam melhor com isso.

Todo mundo, todo dia ou quase sempre, ouve uma palavra dura de quem se gosta, sofre uma injustiça de quem menos se espera, se contorce de dor por algum golpe inesperado do destino ou se questiona seriamente sobre o que está fazendo da vida ou se vale a pena mesmo continuar sendo quem é.

E não há sensação MAIS FODA do que sentir que as coisas que faziam você se ajoelhar pedindo o fim da luta, hoje só te fazem querer lutar mais e melhor. E você luta. E você evolui. Porquê isso é a vida. A dor é parte do total. E a evolução é nossa sina.

Obrigado Deus, pela oportunidade que me é dada todos os dias de ser alguém melhor. 

Obrigado, você, que já me feriu, me ofendeu, me desafiou, mostrou seu pior lado, ofereceu a pedra em vez da mão estendida. Porquê VOCÊ me motiva ainda mais a seguir em frente. Porquê eu sei que já fui assim, e olha como sou hoje - eu penso duas vezes antes de falar ou fazer algo pra alguém, porque sei que magoar o outro é magoar a si mesmo. É a prova viva de que evolução existe, e de que ainda tem coisa MUITO melhor pela frente. É graças a VOCÊ que passo a aceitar ativamente que não há destino senão o de sermos plenamente melhores. E eu te perdoo. Porque, no fundo, eu te amo. Como ser humano, falho e maravilhosamente imperfeito que é. Assim como eu. Jogador de bola amador (muito ruim), e lutador com um retrospecto venerável de várias vitórias e derrotas, mas NENHUMA por desistência.


E como dizia o professor que me ensinou a importância de levantar após tomar boladas no estômago : SEGUE O JOGO !


(A pessoa da foto se chama Gabriela Andersen. Sua história retrata bem a importância de superar uma dor e ir até o final, não importa o resultado. Até hoje, o mundo ouve falar dela. Não me lembro de falarem da vencedora da prova. Fica o gancho pra quem quiser absorver melhor o que eu disse aqui. )



AD INFINITUMN

3 comentários:

Unknown disse...

Ô Diego, show de bola cara. Eu andava precisando ouvir (ok, ler) estas palavras nestes últimos dias pois andei fazendo ao contrário a evolução e regredi muito, ferindo a quem não merecia ser ferido.

Abração cara.

Tonto disse...

Fantástico. Essa imagem ficou marcada na minha vida e o seu texto conduziu magistralmente o melhor dos pensamentos. Navegar é preciso, vencer não é essencial, viver é tudo e lutar sempre. O jogo segue...
Valeu!!
Marcos

Oissac disse...

Parabéns pelo post cara.
Você descreve de forma mais do que clara que o ser humano precisa evoluir e aprender com as dificuldades.
Imagino que esse deva ser o reflexo de algo que acontece ou aconteceu contigo, e saiba meu irmãozão, que teus amigos estão aqui!