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domingo, 8 de dezembro de 2013

Ergo Sum.




Nunca fui homem de aceitar meias verdades.

Meus professores reclamavam que eu fazia perguntas complexas demais. Se a matéria era História e o tema era a Revolução Russa, eu logo queria saber qual era o pensamento do cidadão médio daquela época, qual era a visão de mundo dele, como eram as batalhas pela Sibéria, até mesmo qual a implicação política de executar um processo não pacífico para a revolução.

Lógico que isso nunca valeu para tudo. Senão eu seria um chato. Não sou do tipo que lê linhas de contrato do termo de compromisso do Gmail ou a dupla interpretação possível do regulamento do campeonato de poker com os camaradas no sábado.

Estudar Direito me faria consumir Prozac com arroz e feijão. 

Porém, nunca consegui ser simplista. Algumas pessoas acham inacreditável que alguém consiga discutir o sentido da palavra "liberdade". Eu acho absurdo que algumas não a consigam definir. 

Não me tornei assim estudando na escola privada, nem foi uma forma de me diferenciar de algo ou alguém. Nasci desse jeito. Imaginação alta e um senso crítico estupidamente forte para tudo. Com um gosto irrefreável pra contos épicos e filosofias de bar.

Essa mistura poderia ter me tornado num Ernest Hemingway da vida. Um Nelson Rodrigues da Geração Y. Não fez. Até na hora de escolher um caminho, eu aparentemente não segui qualquer tendência natural.

Isso poderia ser um texto melancólico. Como o de um cara que encerra a virada de noite pré vinte e quatro na Augusta, num boteco qualquer, com os caros e raros amigos caindo de sono e bebida na mesa ao lado enquanto ele encara o relógio queimar os minutos de vida. 

O cara sou eu, mas, uau, melancolia é algo que bate forte em mim, fica uns minutos e some. Por alguma razão, e que Deus e a América sejam abençoados por isso, eu me rasgo inteiro nas entranhas da alma quando as coisas parecem erradas, pesadas, limítrofes. Acho que minha febre de viver é sempre algo mais James Dean do que Augusto dos Anjos. 

Entende aonde quero chegar, parceiro ?

Não consigo ficar lá pensando em cortar pulsos ou escrever poemas que começam com "Oh, vida !". Não, eu passo a questionar duzentas vezes mais o porquê eu não estou me sentindo vivo. 

Eu viro uma cerveja gelada, um copo de Scotch 12 anos. Keep Walking, motherfucker. 

Noto que ajudar alguém necessitado ou simplesmente encarar o mais trouxa dos meus medos (dirigir sem destino pelas principais vias da cidade no sábado a noite ? Eu poderia ser abduzido. Vi isso no "Casos de Família".) me faria atingir esses pequenos pedaços de vida real soltos no manto do agora.

Respiro ali bem fundo, e noto aquela zona de conforto gigante ao meu redor. Tudo tem um preço, e quase sempre a gente não nota que o que nos mantém parados em uma redoma aonde tudo conhecemos, cobra o nosso prazer da descoberta. Da evolução. Do "o que tem depois da cerca com a placa de 'Não Ultrapasse'".

Refleti, com surpresa, que nos últimos 365 dias, os momentos de maior vivência foram aqueles nos quais fui violentamente tragado pra fora de minha rotina.

A troca de emprego. As idas ao estádio debaixo de chuvas torrenciais e sóis escaldantes, para empurrar o time contra adversários medonhos. Os pequenos medos que pareciam grandes como prédios de noventa andares sendo derrubados depois de não aguentar mais desviar deles. 

E claro, as mortes.

Minha avó, minha cachorra, amigos, ídolos. Todos caíram como deuses mortais ao pôr do sétimo dia.

A tragédia acordava em mim o herói que eu, traiçoeiramente, sufocava todo dia. Heróis questionam, heróis fazem o que precisam fazer. Eles correm atrás do que acreditam. 

E isso, porra, é perigoso demais pra quem se preocupa com as normas sociais e desconta a energia de mudança furiosamente em teclados de notebook num blog lido por algumas pessoas especiais. Vinte e três anos de vida, cinco anos disso aqui, e eu só consegui provar pra todo mundo menos eu que eu poderia ser mais. 

Porquê eu não posso mentir pra eu mesmo. Eu sou o cara que nasceu com senso crítico fodido, eu avisei lá no começo. Não acredito em falsos profetas. Não compro livros de auto ajuda. Não me emociono com horário político.

Eu gosto de ações. Atitudes. A hora em que o cara não promete que vai fazer, mas simplesmente vai lá e faz, e você olha e pensa, "porra, esse é alguém que eu queria ser". É isso. O ponto de impacto.

Talvez, eu tenha encontrado a felicidade nos poucos momentos em que vivi o que preguei. 

Lembro de sempre ver o Rubinho Barrichello falar bonito e ser simpático nas entrevistas da TV. Mas ninguém liga pro Rubinho enquanto piloto - logicamente não nos cabe julgá-lo como ser humano, bom e justo que ele me parece ser. Pois, um piloto não é feito de palavras, somente. É feito de corridas. A passagem que tira a respiração da platéia, a rivalidade com outro gênio das pistas, a vontade de vencer, o esforço sobre-humano pra chegar primeiro na linha de chegada, a pátria, a glória, a VITÓRIA !

Algo como Senna. Eu admiro o Senna, o acho um dos maiores brasileiros de todos os tempos. E, como tal, sempre quis muito saber o que ele pensava, o que falava, o que fazia.

Notei que Senna falava coisas simples e parecidas com as de muita gente por aí. "Dê o seu melhor", "Se dedique integralmente", "Ame o que você faz e acredite em Deus", "Ou você faz bem feito ou não faz".

Mas, o que ele falava, possuía poder motivacional destruidor em mim.

Porquê era o Senna. Era o cara que voava nas pistas, o cara totalmente focado nos seus objetivos e que sabia muito bem de seu papel fora das pistas com a população carente, aqui e lá fora. Ele falava bem, mas era o que fazia que dava tanto poder ás suas palavras.

Se Moisés não tivesse aberto o mar, teriam rido das palavras bonitas dele.

E esse, é o meu desafio, nesses vinte e quatro anos que começam dentro de vinte e quatro horas. Porquê a boca fala do que está cheio o coração, e se posso escrever, posso fazer.

Eu preciso acreditar no que sou e faço todos os dias. Preciso saber que, até o final do dia, EU irei fazer algo inovador, ainda que extremamente pequeno e simplório, em minha própria vida. Que eu devo ter TESÃO de viver todos os dias, porque, porra, eu sou o cara que está no comando das coisas aqui, e certamente eu vou fazer um bom trabalho, bem competente, na hora de deixar um legado por onde eu passar.

Isso seria se amar. E uns aos outros como ele nos amou. Seria deixar de ser blogueiro e me tornar alguém real. Alguém que as pessoas viriam ler aqui só pra saber o que aquele cara pensa, porque também querem chegar naquele estado.

As palavras não são apenas parte do caminho, as palavras são o testamento dos atos que irei cravar nesse planeta. Que VOCÊ também deve cravar. Nós. Todos nós.

Irei deitar e fechar o dia. Ansioso pelo o que eu irei fazer sobre algo em meu caminho amanhã. E depois de amanhã. E depois, e depois, e depois.

Paul Walker e Nelson Mandela morreram depois de ter feito muito bem o que acreditavam. Há quem duvide que eles tenham morrido em estado de graça.

É. Estamos precisando enxergar melhor. Um drink. Pelos cegos e pela graça de mais um ano aqui.



365 dias. E contando.


AD INFINITUMN






1 comentários:

Oissac disse...

Meu caro amigo, tenho o conhecimento de que para determinar o quão bom é um guerreiro, devemos olhar não somente para tuas conquistas, mas principalmente para a maneira como ele luta. A garra, a determinação, a paixão na qual ele brada cada movimento deve determinar o fluxo da vitória.
Tu és um guerreiro!
Vejo em ti uma vontade de se superar, de vencer a cada dia, pegando mais e mais folego para o próximo desafio...
Não sei dizer onde você vai chegar, mas posso dizer com absoluta certeza, que pela maneira como você luta, a glória da batalha ja é tua, e estarei la na primeira fila pra lhe aplaudir de pé quando a vitória for anunciada.
Pra variar mais um ótimo post!