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domingo, 1 de junho de 2014

A Conquista




Uma vez, um cara disse que a primeira coisa que você aprende quando viaja é que todas as coisas que você ouvia falar sobre outros povos e culturas estavam errados.

E eu nunca nem tinha sequer viajado de avião, mas meu coração pedia demais por novos territórios. Como alguém que cresce demais e já não cabe nas roupas de antes, eu não dava mais conta do meu espírito. Eu precisava de mais. Eu precisava ir além do que o horizonte me dizia existir.

Quando pisei naquele aeroporto, eu mal sabia o que fazer, mas tudo era tão novo e incrível. Eu era como um viking que se jogava ao mar pela primeira vez, movido por suas necessidades tão urgentes.

A forma como o corpo se ajeitava na poltrona. O sorriso da aeromoça. O tamanho das turbinas lá fora. 

Quando a máquina ganhou força e tomou os céus, eu sorri de uma forma que não lembro de ter sorrido por muito tempo. Era como se eu tivesse ganho algo. Ou recuperado. Não sei.

Eram seis e meia da manhã, e eu vi o sol nascendo sobre o mar de nuvens. Me senti, literalmente, próximo do céu. Como se tudo que me prendesse tivesse ficado lá embaixo. Distante.

E quando chegamos na cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos, meu coração foi de 100 á 200. O piloto deu a volta por cima da cidade, e ali eu vi pela primeira vez as praias tão longas, as centenas de barcos, as montanhas cheias de árvores, os prédios disputando espaço com as pedras, e o Cristo de braços abertos.

Esse foi um daqueles momentos mágicos no qual o seu mundo dos sonhos e o seu mundo concreto se cruzam no mesmo instante de realidade. Aonde sua imaginação não faria melhor e sua realidade não te puxaria pra baixo.

Depois de cruzarmos por cima da maior ponte do planeta e aterrizarmos em segurança, eu pisei no asfalto e senti o cheiro salgado do oceano. Respirei fundo. Eu nunca tinha pisado ali. Era uma conquista nova. Um novo lugar pra fincar bandeira.

Olá, Rio. Olá, Novo Mundo.

Me sentia tenso pelo medo do que poderia ocorrer, pelos tantos contos de violência e desventura, mas segui firme e pouco a pouco fui descobrindo a cidade. Fazendo amigos. Deixando os passos duros pra trás e ganhando coragem em cada nova rua do caminho.

Fiquei em um lugar aonde eu era o único brasileiro. A cidade era uma, mas nela, conheci um pedaço de cada parte do planeta, á cada novo parceiro de viagem que ali fiz. E mesmo as tão temidas comunidades me acolheram como um novo filho. Me deram um teto pra dormir e  uma fonte de lembranças.

E foi num dia de greve total de ônibus, daqueles que a gente nem quer sair da cama pra enfrentar, que eu subi lá, no ponto mais alto de todos, pra ver o que todos falam.

Eu, que tanto medo de altura sempre tive. Eu, que reclamava de ver os mesmos caminhos toda vida.

Quando cheguei lá no alto, parecia que dava pra tocar as nuvens. Minhas mãos suavam demais, meu coração parecia gritar, eu sentia meus músculos tão tensos. Tão alto que poderia ouvir o paraíso me chamar.

Então olhei pra frente, e vi a cidade toda sob meus pés. Vi o oceano beijar as areias, vi o azul mais puro da minha vida se dividir em dois no horizonte. O Cristo parecia abençoar o momento, e eu, como sempre tive que fazer na vida - mas nem sempre fiz - encarei o risco e meu temor.

Em meio á tanta gente tirando fotos, por um minuto, eu fechei os olhos e estendi os braços, como o Cristo.

Senti a brisa me enlaçar. Senti um silêncio profundo de respeito daquela imensidão vindo ao meu encontro. 

E por sessenta segundos, foi como se eu tivesse ganho a primeira guerra da minha vida.

Sim, eu estava lá. Eu cheguei. Encarara tanta coisa pesada em tempos anteriores, acreditara naquela chance, se agarrara á ela e sim, ali estava. Eu tinha vencido. Tinha cruzado terra e mar e cumprido a missão de chegar ao novo continente da minha vida.

Pra muitos, viajar talvez seja uma caipirinha pro Instagram ou um novo lugar pra matar a curiosidade. Pra mim, eram quilômetros inteiros surgindo á cada segundo na minha existência.

Naquele momento, eu me senti ligado á algo maior, e acho que a partir dali passei a confiar muito mais em mim mesmo. 

Como dizia Amyr Klink, em um trecho que me recuso á colocar de forma parcial, mas apenas por completo:

""Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. 

Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. 

Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. 

Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.


Viajar é a melhor forma de encarar a si mesmo. Tu aprende a ver certas coisas sob novos ângulos, e seus fantasmas e medos perdem as paredes nos quais se sustentavam diariamente. 

É um soco na sua cara á cada minuto, porque tudo é tão novo e real que tu não tem tempo pra inventar uma desculpa pra isso ou aquilo que tu deixaria de fazer. Não há justificativas, não há receios, não há o velho.

São dez anos em um dia, e você se sente vivo como poucas vezes se sentiria fazendo o que sempre fez.

Eu poderia lhes dizer das coisas que aprendi, mas explorar é uma questão pessoal. O que você tem a aprender é diferente do que eu tenho, e tudo que tenho á lhe dizer é : vá além. Nem que seja por um final de semana. Vá além. Saia. Se permita. Não fique aí. Cada segundo parado é um segundo a menos de algo que poderia te mudar completamente.

Você tem, por direito divino e inesgotável, ser tão grande quanto quiser ser. Não se prenda por convenções sociais, salários no fim do mês ou falta de coragem de arriscar. Repare que muito do que te faz sofrer tem a ver com aquilo que já não é mais pra você. Saia daí, porra !

Imagine que há mil anos atrás, homens se lançavam ao desconhecido em busca de algo melhor para suas vidas.

Porquê com você seria diferente ? Tu não é menos especial do que eles foram.

Conquiste !

AD INFINITUMN



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