É...
Engraçado.
Essa semana fiz um comentário apaixonado em uma matéria sobre viajar sozinho, em um grande portal masculino, acessado por todos os públicos.
Meu comentário foi alçado ao topo pelo número de aprovações de outros leitores, mas á despeito dessa forma passageira de aprovação, o que me deixou feliz foram as respostas.
Foram quatro, inclusive da autora, elogiando e dois deles agradecendo imensamente pela injeção de ânimo e convencimento que eu lhes dei para viajar sozinhos. Estavam receosos, em meio ao desconhecido do além do horizonte, perdidos nos problemas do dia-a-dia.
Um comentário, e lá estava eu mudando o dia (e o passaporte) de alguém.
Essa não fora a primeira vez.
Já havia logrado outras vezes o topo da cadeia de comentários, embora nunca fosse o objetivo - só queria expor o que pensava. Logicamente, ter pessoas curtindo e dando respostas do tipo "uau ! comentário tão bom quanto o texto !" ou "genial ! visão genial !" me faziam sentir bem.
Mas não era por isso. Era por ter, por um instante, a chance de extrair aquele ouro, aquela faceta que eu só conseguia mostrar em raros momentos.
O que nunca mudou, além de minhas palavras aparentemente bem colocadas ("Você tem lábia" é uma frase que tenho ouvido frequentemente em vários contextos), é a dicotomia entre texto e vida.
Uma vez uma amiga me disse que eu deveria viver conforme eu mesmo. Pois as coisas que eu pensava e escrevia eram intensas e incríveis, mas meus atos se mostravam pequenos e guardados dentro de um mundo frágil.
O que pode soar grosseiro era um conselho dado em uma das minhas fases de cabeça baixa.
Ás vezes, a gente precisa de um abraço.
E ás vezes, a gente precisa de água fria na cara.
O agradecimento efusivo de um gesto despretensioso fez soar em mim a pequena fagulha de sentido, do que restou da grande fogueira de idealismo e vida que já houve um dia.
Sim, pois esse que lhes escreve tem levado uma vida de pouco valor, fato que já não se faz recente.
Uma vez, li com espanto que Hemingway, o famoso escritor ianque, havia levado uma vida de bosta. Ferido na guerra, abandonado pelo grande amor, caindo no alcoolismo em Paris...e esse padrão se repetiu por outras grandes personalidades que fui estudando (Sem deixar de admirar).
De físicos como Kepler á músicos como Kurt Cobain, há sempre presente o sinal de uma história de vida cujo volume de realizações íntimas destoa em níveis estratosféricos de suas realizações públicas.
É uma espécie de maldição, um toque de Midas, o rei que tornava ouro tudo aquilo que tocava.
Imagine revolucionar o mundo das leis da física moderna ou entrar para a história do Rock, ao mesmo passo em que sua mulher e filhos adoecem ou você entrou em um vício fatal em heroína para tentar curar uma dor incurável.
Obviamente, eu não estou em registro algum além do livro escolar (e talvez do campeonato de SuperNintendo de 2001, 3º lugar).
Mas eu SEI que meus lampejos de pequena e temporária genialidade em certos posicionamentos ou ímpetos não vem do espaço vazio e infinito.
Vem do que eu sou, de algo que eu preciso lapidar, e que me tornaria alguém que o mundo tem precisado cada vez mais. Alguém que poderia ser algo mais. Não um número. Um nome.
O velho Quaterback, o camisa 10, a pessoa que enxerga o que outros não enxergam e movimenta o jogo de forma á alcançar o que precisa ser alcançado.
Alguém que não é mais especial do que ninguém. Que é importante como todos os outros do time, em posições diferentes.
Alguém que não é mais especial do que ninguém. Que é importante como todos os outros do time, em posições diferentes.
Mas que pode, em um determinado instante da trajetória do tempo e espaço, executar o lance que decide tudo.
E o que ocorre á cada dia, a cada tic tac, é que sei que essa capacidade está adormecendo pra nunca mais acordar nessa vida.
Há cinco anos atrás, eu falava em salvar o mundo, trabalhar voluntariamente, escrever livros e invocar mudanças profundas na sociedade.
Hoje, eu apenas torço pra chegar até o final do dia sem ter vontade de enfiar a cabeça na parede.
É muito provável que eu tenha alimentado uma zona de conforto grande o suficiente pra esconder eu de mim mesmo.
É real, que nunca deixei de lutar. Que 2014 foi o melhor ano da minha vida porque eu fiz ele ser, que não tenho deixado planos de lado, que ainda me faço (tento) ser mais do que o instinto básico de comer, beber, meter, dormir, brigar, dominar.
Mas também é real que a gravidade tem ficado á cada dia mais pesada. Que a fantasia de cidadão médio que trabalha, estuda e dorme que vesti tem se tornado minha pele. Que eu gastei 25 anos de vida útil sendo um rascunho daquilo que poderia e não uma arte daquilo que é.
Li sobre a notícia de imigrantes em barcos que ninguém queria aceitar. Li sobre como eles se mataram e comeram uns aos outros para sobreviver. Vi sobre crianças queimadas vivas por grupos extremistas, vi pessoas se matando pra entrar no trem (essa eu vi bem de perto), vi gente jogando lixo na rua e dando risada, e vi gente destruindo o país enquanto ninguém parecia notar nada além do cardápio do dia.
E, num pequeno momento escondido, chorei de soluçar.
Não porque estou surpreso. Ou chocado. Ou decepcionado.
Já estive, não tenho estado há muitos anos.
Mas por saber que esse é o mundo que vivo, essa é a minha raça, e sei que em menor escala ou atividade, eu também sou um animal assim. Que eu poderia ser uma daquelas pessoas que abrem mão da porra toda pra ajudar refugiados na África ou pegar em armas para defender sua terra, que meu coração adoraria isso, mas que eu ainda me forço á gastar quatro horas diárias no trajeto repetitivo, oito horas ouvindo piada desnecessária e não produzindo nada grande sentado numa cadeira, entupindo minhas artérias de açúcar e contando quantas horas faltam pro fim do expediente, e depois pra chegar em casa, e depois pra dormir, e depois pra tudo de novo, e depois pra saber quando isso deixa de ser isso.
Que o stress já me faz preferir uma cara amarrada á um sorriso gentil. Que deixei de ver meus semelhantes como semelhantes, mas como concorrentes, estorvos, coisas que se movem e atrapalham. Que eu bebi da fonte comum da ignorância e o veneno da rotina acabou com a minha capacidade de ver algo além do meu ego. Que amanhã é outro dia, mas não serão outros seres humanos.
Que o stress já me faz preferir uma cara amarrada á um sorriso gentil. Que deixei de ver meus semelhantes como semelhantes, mas como concorrentes, estorvos, coisas que se movem e atrapalham. Que eu bebi da fonte comum da ignorância e o veneno da rotina acabou com a minha capacidade de ver algo além do meu ego. Que amanhã é outro dia, mas não serão outros seres humanos.
Eu choro, porque se minha criança sonhadora ou adolescente revoltado visse o adulto que virei, provavelmente odiariam a si mesmos.
Porque se apaixonariam pelo que escrevo, mas cuspiriam no que faço.
Porque a vida não é escrita pelos que o fazem bem, mas pelos que vencem.
Por trás de toda pose feroz e genuína racionalidade argumentativa, há apenas um pedido ecoando em meio á histeria.
Perdão. Eu falhei.
E não sei quando nós vamos parar de falhar.
E não sei quando nós vamos parar de falhar.
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