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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A past and future secret






O quase homem, dos olhos castanhos, barba mal feita e respiração pesada, sentou no parapeito do terceiro andar e começou a observar a chuva que caía no fim de tarde.O vento úmido lhe batia no rosto volta e meia, mas o olhar não estava ali.Estava em outro lugar.

Passado.


Passado é aquilo que muitas vezes tem tantas chagas e feridas que você evita como se fosse a fila do banco na segunda feira.

Mas, passado também é resposta.

Quantas vezes, ele mesmo, se deparara com situações que pareciam novas, desesperadoras, sem solução, e ao pensar melhor, percebera que já havia vivenciado antes.Também percebera que só vivenciava as mesmas dificuldades caso não houvesse aprendido a lição.

Vezes e vezes, se sentia irritado quando se pegava repetindo algum erro.O sangue subia na cabeça e ele pensava que deveria soldar um chapéu de burro.Viver era algo bom, intenso.Mas exigia etapas a serem vencidas.E repetir etapas era perder uma nova.

Ficar irritado, em si, já era uma besteira.Passar nervoso não resolvia nada.Só enriqueceria a indústria de calmantes e caixões.Logo, o primeiro passo que tomou foi calar a boca.Calar a alma.Escutar o som do coração, observar o equilíbrio que mantém os Boeings nos céus e nossos pés no chão.

Então, visitou aquela biblioteca suja e fétida chamada memória, que entre um ou outro acontecimento ou imagem de deixar os deuses sem ar, acumulava relacionamentos interrompidos, quedas na rua de casa, pessoas que partiram e medos presos em algum lugar escondido.Lembrava muito a porta dos desesperados.Na porta 1 sua primeira becetacil, na porta 2 o seu pior sofrimento amoroso, na porta 3 uma incrível e adorável tarde com os avós no parque.Mas bem, você não precisa se jogar no chão na frente de um auditório insandecido (e pago pra isso).Era a mente dele.Ele era senhor de si, afinal.

Escolheu a porta 1.

Um clarão rápido, e ele sentiu o corpo viajar.Havia uma garota de cabelos alvos, o rosto suave, olhos azuis.Trazia uma flor.Entregou para um garoto que tinha cinco anos.Cachos dourados, cara de bobo apaixonado.Dentes de leite faltando.Sabia da idade, sabia do sentimento.O garoto era ele.

O garoto pegou a rosa e deu um beijo tímido no rosto da garota.Havia pelo menos outras vinte crianças na sala.As garotas fizeram menção de aprovação, com exceção de uma, dos cabelos pretos e olhos puxados, que não pareceu ter gostado nada daquilo, mas segundo o banco de memórias, o motivo não foi ciúmes.Antes fosse.

Os garotos fecharam a cara.Afinal, aquele mané, além de ser filho de uma das professoras da escola, era agora o namoradinho da garota mais bonita da sala.É, ele não merecia tudo aquilo.O horário para o intervalo bateu, as crianças saíram em disparada.Ele saiu atrás, e notou que de fato ninguém o via ou sentia.Viu ele no passado se despedindo da garota alva (o nome dela era Jéssica, ele achava), virando atrás da casa das bonecas e quebrando a esquina da colméia.Quase nenhum garoto tinha a coragem de passar naquele lado, aonde as abelhas passavam zunindo perto das orelhas dos mais atrevidos.Mas, naquele dia, muitos passaram.E passaram atrás dele.Eram seis.O maior tinha cara de idiota grande e sem cérebro.O problema é que quando se tem cinco anos, idiotas grandes e sem cérebro levam vantagem.E então, disseram uma dúzia de palavras ofensivas.Conseguia ver a raiva nos olhos dos garotos.Conseguia ver o medo nos próprios olhos.Os punhos cerraram, mas os dele no passado não.Então, alguns segundos de luta e ele estava lá, no chão, chorando.Os garotos saíram correndo.Uma abelha, como se tivesse sentido a dor do garoto de cachos dourados, ainda tentou atacar o gigante idiota.Colocou as mãos no rosto.Não conseguia parar de chorar.Aquilo doía.E ele mal conseguira se defender.Ela iria abandoná-lo, ouvira o gigante falar que garotas detestavam fracotes.Então, ela se aproximou dele.Abaixou bem perto, e o abraçou.E aquela tinha sido a melhor surpresa.Garotas, afinal, nem sempre gostavam dos mais fortes.Talvez, gostassem dos bonzinhos.Ela gostava.E ele se sentiu um mané, igual aqueles que se jogavam no chão na porta dos desesperados, por achar que a namorada o abandonaria por uma fraqueza sua.Não o garoto de cinco anos.Mas o de vinte.


Os olhos voltaram ao foco.A chuva cessara.Já havia encontrado a resposta para o próprio medo.






Até mais, caros raros

AD INFINITUM

2 comentários:

Unknown disse...

Di, eu chorei :S Esse foi o post MAIS LINDO que você já fez até hoje. E, não sei se você sabe, mas EU LI TODOS, viu? Desde o começo :]
Levei alguns dias até conseguir terminar, mas enfim.. :)
Coraçãozinho até acelerou com esse. Muito lindo mesmo..

Me identifiquei desde as primeiras palavras. A diferença: às vezes eu não encontro a resposta.. e, se encontro, finjo que não.. pq machuca.

Feliz 2010, meu amigo :*

Oissac disse...

Muito bom cara, parabéns pelo seu post, ficou realmente ótimo.